Nonato Guedes
A professora Glauce Burity, escritora e pesquisadora, ex-primeira dama da Paraíba, promete reparar injustiças e contar episódios de bastidores da trajetória do seu marido, o ex-governador Tarcísio de Miranda Burity, que faleceu aos 63 anos de idade no dia 08 de julho de 2003 no Incor, em São Paulo, por parada cardíaca irreversível e falência múltipla dos órgãos. Segundo noticia, hoje, o jornalista Abelardo Jurema, em sua coluna no “Correio da Paraíba”, Glauce vai relatar detalhes de fatos ainda desconhecidos do público, envolvendo, por exemplo, o incidente no restaurante Gulliver em João Pessoa, no qual ele foi alvejado por tiros disparados pelo ex-governador Ronaldo Cunha Lima, também falecido.
Tarcísio Burity governou o Estado por duas vezes – na primeira, a partir de 1979, por via indireta. Ele foi escolhido pelo presidente da República, Ernesto Geisel, em meio a um impasse entre políticos da Arena-PDS que postulavam a indicação. Enfrentou, em convenção partidária realizada na Assembleia Legislativa, o então deputado federal Antônio Mariz, que se dispôs ao confronto mesmo fazendo restrições ao sistema, apelidado pela mídia de “biônico”, e desafiando ameaças de represália do Palácio do Planalto, como a cassação do seu mandato, o que não aconteceu. Na época, Burity era neófito em política, tendo notoriedade pela sua atividade intelectual e passagem pela chefia de gabinete da reitoria da Universidade Federal da Paraíba. Ele foi “tertius” na pré-disputa entre Mariz e o senador Milton Cabral pela cadeira e as versões convergem, até agora, para a influência importante do general Reinaldo Melo de Almeida, filho do ex-ministro José Américo de Almeida, e do general Antônio Bandeira, ambos influentes junto à oficialidade. Mas o consenso é de que o “grande eleitor” foi o ministro José Américo, que pressentindo o impasse, recomendou a Burity preparar seu currículo e preparar-se para assumir o governo do Estado.
A indicação de Burity surpreendeu a mídia nacional, tendo a revista “Veja” definido o ungido como “obscuro professor universitário”. No exercício do poder, entretanto, Burity sobressaiu-se nacionalmente em posições de destaque, defendendo bandeiras como a das eleições diretas para presidente da República e convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte. Em 1982, Burity resolveu testar-se nas urnas e concorreu ao mandato de deputado federal, tendo sido o mais votado da legenda. Suas ações como governador firmaram uma imagem positiva dele, principalmente quando socorreu flagelados da estiagem em municípios do semiárido com recursos próprios do Estado, já que o Poder Central alegava dificuldades para atender à calamidade. Como deputado, Burity integrou um grupo que pregava renovação política, mas sua atuação não foi profícua.
Em 1986, num gesto espetacular, Burity rompeu com o esquema político de que fazia parte na Paraíba e que tinha como expressão maior o ex-governador Wilson Braga, tendo se filiado ao PMDB, presidido por Humberto Lucena. Foi acolhido como candidato ao governo pelo voto direto, na vaga do próprio Humberto, que enfrentou problemas de saúde e optou por pleitear a reeleição senatorial, saindo vitorioso. Nas urnas, Burity abateu o então senador Marcondes Gadelha, ex-PMDB, já no PFL, por uma diferença de quase 300 mil votos. A segunda gestão empalmada por Burity foi bastante tumultuada, com oposição cerrada de deputados da base governista descontentes com o chefe do Executivo e com problemas inesperados como a liquidação extrajudicial do Paraiban pelo governo do presidente Fernando Collor de Mello. Burity ainda tentou voltar à política como candidato ao Senado, sem lograr êxito. Ficou “imortalizado” como um fenômeno e um dos mais brilhantes expoentes da vida pública paraibana. O jornalista Severino Ramos, já falecido, que foi secretário de Cultura de Burity, escreveu uma biografia dele, intitulada “Esplendor &Tragédia”. O ex-ministro da Justiça, Ibrahim Abi-Ackel, definia Burity como “um político não convencional”, o que foi tomado como um elogio pelo então governador.