Nonato Guedes, com agências
Posto em liberdade por decisão do Supremo Tribunal Federal e bafejado por uma “onda camarada” no Congresso que deverá manter a soltura, como suposta estratégia para não alimentar choques entre poderes, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, passadas as festas no entorno do ABC paulista, deflagrará uma mobilização partidária pelo país, indo a eventos que não gostava de priorizar na sua agenda, como assembleias e convenções para escolha de dirigentes nos Estados. O principal foco de Lula, conforme sites noticiosos, será a pregação voltada à militância para incentivá-la a defender sua candidatura à Presidência nas eleições de 2022.
Como se sabe, embora tenha ganho a liberdade, Lula da Silva ainda responde a outros processos que estão acumulados nas esferas judiciais. Em paralelo, a soltura acirrará a discussão nos meios políticos e jurídicos em torno da inelegibilidade, ou não, do ex-presidente, para eleições vindouras. Analistas políticos apontam outro aspecto da tática de Lula: ocupar espaços de forma avassaladora para “interditar” o debate sobre exame de alternativas de candidaturas de esquerda no pleito de 2022. A razão é simples: Lula se julga o único candidato e, também, o grande candidato capaz de recolocar a esquerda no centro do poder, de preferência dando combate ao presidente Jair Bolsonaro, em cujo governo identifica erros e omissões que serão explorados na maratona de agora em diante.
Segundo informa o colunista Leandro Mazzini, de “Esplanada”, o ex-presidente já traça o roteiro das caravanas interrompidas desde a prisão em abril de 2018. O líder petista tem dito a aliados que vai “rodar o país” e costurar alianças para as eleições municipais do próximo ano. Apesar de defender a formação de uma frente de oposição ao governo de Jair Bolsonaro, o ex-presidente tende a manter a posição de que o PT disponha de candidaturas próprias nas principais capitais. Nas últimas eleições municipais, em 2016, o Partido dos Trabalhadores perdeu 60,2% das prefeituras, em comparação com 2012. Tinha 638 e ficou com 254. Um dos desfalques aconteceu em João Pessoa, onde o prefeito reeleito Luciano Cartaxo migrou do Partido dos Trabalhadores, pelo qual foi eleito na primeira vez, para outras duas legendas – o PSD e, atualmente, o PV.
Numa nota considerada contraditória, já que o Supremo também pôs em liberdade o ex-governador tucano de Minas Gerais, Eduardo Azerêdo, implicado no chamado “mensalão” que depois deu origem ao mensalão petista, o presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, divulgou nota manifestando contrariedade pela soltura de Lula. Ele asseverou: “A soltura do ex-presidente Lula pode alimentar ainda mais um clima de intolerância na sociedade brasileira, no qual polos extremos preferem se hostilizar ao invés de dialogar. Com Lula solto, nova palavra de ordem não basta mais. Será preciso apresentar soluções para as crises que eles próprios criaram. Retórica vazia não gera emprego nem reduz miséria ou desigualdade”.