Em entrevista às páginas amarelas da revista “Veja”, o ex-presidente Michel Temer (MDB) diz que, passados onze meses do fim do seu mandato, não sente falta do poder. “O fato de ter exercido a presidência da República depois de passar por muitos outros cargos público me deixa pessoalmente enobrecido. Até porque, penso eu, com a modéstia de lado, fiz um governo útil ao país, embora curto. Na saída, é preciso se reaclimatar. E, nesse processo, pude conviver mais com minha família e retomar amizades antigas”. Temer foi investido na Presidência da República com o impeachment de Dilma Rousseff (PT) em 2016.
Ele teve duas prisões decretadas pelo juiz Marcelo Bretas, responsável pela Lava-Jato no Rio e não esconde a indignação pessoal. “Fui muito agredido sob o ângulo moral. Tenho currículo, não ficha corrida. Não houve respeito ao rito processual. Com todas as vênias, houve um excesso sobre o qual eu só me atrevo a comentar em face da desmoralização inadequada que esse gesto provocou. Tanto que o Superior Tribunal de Justiça acabou derrubando a decisão por unanimidade. Quando um processo desce do STF para a primeira instância, o que aconteceu quando deixei a Presidência da República, o rito exige que se complete a investigação para que o MPF decida se oferece denúncia. Se oferecer, caberá ao juiz recebê-la ou não, além de mandar ouvir o acusado. O que aconteceu nesse caso: os autos baixaram do Supremo para o tribunal do Rio, e não houve nada disso”.
Em relação ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Temer opinou que ele tem uma liderança inegável, tem prestígio. “Sua prisão aumentou esse sentimento entre seus apoiadores, que passaram a tratá-lo como vítima”. Temer conta que no seu mandato sofreu uma oposição ferocíssima por causa do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e que isto se refletiu, por exemplo, na tramitação da reforma da Previdência. “A oposição serviu-se do apelo popular da matéria para combatê-la acidamente. A resistência ao projeto de reforma ficou, digamos, mais suave, e agora, para o governo Bolsonaro, já havíamos asfaltado o terreno”. Indagado se articulou para o impeachment de Dilma, Temer conta que, época, já prevendo insinuações de conspiração, foi a São Paulo para evitar alimentar as especulações e somente voltou a Brasília quando da votação do afastamento temporário da então presidente da República. “Não participei minimamente do impeachment. Quando assumi, começaram a me chamar de golpista, o que não é verdade”, resume.
Na entrevista, Temer disse, ainda, que a Presidência da República “é um longo aprendizado” e se manifesta empolgado pelo fato de que suas políticas para a área econômica estão sendo mantidas pelo seu sucessor, o presidente Jair Bolsonaro. Sobre a reforma da Previdência, por exemplo, diz que o projeto foi inspirado no seu. Do mesmo modo, a divulgação do recente pacote de medidas econômicas do ministro Paulo Guedes seria um prosseguimento do programa Ponte para o Futuro, criado por sua gestão para estimular o desenvolvimento econômico. “Se a economia começa a se recuperar, isso se dá em face das reformas que iniciamos lá atrás”, disse ele, que tem 79 anos de idade.