Nonato Guedes
Em 21 de julho de 2005, o ex-prefeito de João Pessoa e ex-senador Cícero Lucena (PSDB) foi alvo de mandado de prisão expedido pela Polícia Federal em meio a denúncias sobre a “Operação Confraria”, um esquema de suposto favorecimento a empreiteiras e desvio de recursos públicos federais, somando cerca de R$ 100 milhões. Outras sete pessoas foram arroladas, incluindo ex-auxiliares da administração pessoense, ficando soltas à disposição da Justiça. O processo passou a tramitar em segredo de Justiça e Cícero começou a desmontar, uma por uma, as acusações contidas em processos instaurados contra ele. Na época, surpreso com o mandado de prisão, fez questão de se apresentar alegando ter “a consciência limpa”, tendo conseguido habeas corpus que o pôs em liberdade. Quinze anos após o desfecho do caso, com o atestado de sua inocência pelo Tribunal Federal Regional da Quinta Região de Pernambuco, ele continua achando que foi vítima de uma orquestração política de adversários, mas, como antes, não desce a detalhes.
Em 2006, Lucena candidatou-se ao Senado, obtendo 803.600 votos contra o principal rival, empresário Ney Suassuna, que concorreu pelo PMDB. No Senado, com o apoio de colegas, foi alçado à Primeira-Secretaria, onde implementou medidas de austeridade com relação a gastos e pessoal, tendo sido investido, também, na presidência do diretório regional do PSDB, com o mandato renovado. Nascido em São José de Piranhas no dia cinco de agosto de 1957, sobrinho do falecido senador Humberto Lucena, Cícero foi guindado da construção civil, área em que se destacava em João Pessoa, para o posto de candidato a vice na chapa de Ronaldo Cunha Lima ao governo do Estado em 1990. A escolha surpreendeu aos analistas políticos. Cícero, porém, foi uma revelação à frente do poder, cumprindo missões espinhosas delegadas por Ronaldo ou em conjunto com ele, a exemplo da luta pela reabertura do Paraiban. Assumiu a titularidade do governo num momento difícil para Ronaldo: o incidente no restaurante Gulliver, em que o poeta atirou contra o ex-governador Tarcísio Burity, e manteve a situação sob controle. Posteriormente, quando Ronaldo renunciou para se candidatar, e se eleger, ao Senado, cumpriu mandato de dez meses, dando continuidade ao programa que haviam defendido na praça pública.
Cícero Lucena foi prefeito de João Pessoa eleito duas vezes – a primeira, em 1996, a segunda em 2000. Deixou realizações concretas e simbólicas. Extinguiu o Lixão do Róger, com a construção de um aterro sanitário, desafio que colocara à prova inúmeros administradores da Capital. Foi, ainda, secretário de Planejamento no governo Cássio Cunha Lima, enquanto sua mulher, Lauremília, assumiu a vice-governança no primeiro mandato de CCL. Cícero exerceu, ainda, a secretaria de Políticas Regionais, com status de ministério, no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. Numa entrevista ao extinto jornal “O Norte” em dezembro de 2005, Cícero contou que, antes de ser envolvido na Operação Confraria, pipocaram denúncias sobre eventuais irregularidades em contratos da prefeitura. O Ministério Público da Paraíba começou a citar ex-secretários para que justificassem alguns questionamentos da Controladoria Geral da União. Na Lei Orgânica do município constava um parágrafo em que o secretário aparecia como ordenador de despesas e foi com base no dispositivo que o MP acionou auxiliares de Lucena. Cícero estranhou não ter sido citado de pronto. Colocou-se à disposição da Justiça em Brasília, Recife e, em João Pessoa, foi ao Ministério Público falar com o Procurador Fábio George para esclarecimentos e ficou surpreso com o mandado de prisão, extensivo a outras pessoas.
O ex-prefeito firmou o entendimento de ter sido vítima de uma injustiça ou perseguição, até mesmo arbitrariedade, dizendo que se já tinha se oferecido para prestar esclarecimentos, não se justificava o mandado de prisão expedido contra ele e outras pessoas. “Recebi apoio de várias pessoas que diziam que fui preso político”, ressaltou, na época. Um outro fato que lhe intrigou foi que, mesmo em segredo de Justiça, a imprensa era mantida informada sobre detalhes do processo. Não quis, no entanto, passar recibo de supostas traições durante a tempestade que vivenciou. “Prefiro lembrar da solidariedade que foi fundamental para enfrentar o momento”, comentou. Cícero disse que na secretaria de Políticas Regionais teve oportunidade de participar do ministério num momento importante do projeto de transposição das águas do rio São Francisco. Quando o projeto chegou à sua Pasta, encontrava-se em caráter preliminar. No formato original, a Paraíba praticamente seria usada como trajeto das águas em demanda do Rio Grande do Norte e Ceará. Foi quando se reorientou o projeto para que a água chegasse também a Campina Grande. Ele foi substituído no posto por Fernando Catão, tio de Cássio Cunha Lima e atual conselheiro do Tribunal de Contas do Estado da Paraíba.