Nonato Guedes
Inocentado, após quinze anos, de acusações formuladas no bojo da “Operação Confraria”, o ex-prefeito de João Pessoa e ex-senador Cícero Lucena (PSDB) reafirmou, ontem, em entrevistas ao Sistema Correio de Comunicação, que não pretende mais disputar nenhum mandato político, embora possa ter participação em eventos eleitorais, observando que “a gente nunca deixa tudo completamente”. A Quarta Turma do Tribunal Regional Federal da Quinta Região, sediado no Recife, reconheceu, por unanimidade, a não ocorrência de crimes apontados contra Cícero referentes à suposta organização criminosa, formação de quadrilha, fraude em licitações e superfaturamento de obras quando gestor da Capital paraibana por duas vezes.
Cícero foi, também, governador do Estado por dez meses, completando o mandato de Ronaldo Cunha Lima, que se desincompatibilizou para concorrer ao Senado em 1994, saindo vitorioso. Lucena explicou que a sua decisão de sair da disputa política não está embasada na questão dos processos movidos contra ele, lembrando que um ano depois, na efervescência do caso, foi eleito senador, “pela generosidade do povo paraibano”. E acrescentou: “A decisão de sair da política, não concorrer a cargo eletivo, é pessoal e familiar. O resultado judicial agora confirmado não altera o que já havíamos decidido. Só trouxe-nos a felicidade de constatar que a verdade foi resgatada”.
Não obstante, Cícero mantém-se antenado com os fatos políticos e emite opiniões a respeito. Defende, por exemplo, que o PSDB tenha candidaturas próprias a prefeitos em todas as cidades paraibanas, exceto em localidades onde conveniências “muito fortes” não justificarem essa presença ativa. Seu raciocínio é simples: “O partido que não tem candidato próprio não cresce, não se fortalece. Esta é uma lógica muito clara da atividade política, e minha postura é no sentido do lançamento de candidatura própria sem intransigência, com espaço para acordos, dependendo de avaliações do quadro em cada cidade”. Comentando a sua absolvição nos processos que foram movidos, Lucena ressaltou:
– Carrego o sentimento de gratidão e de reconhecimento a Deus. Reconheço que durante quinze anos recebi sabedoria, discernimento, paciência e solidariedade, além do apoio familiar. Agora, é o momento de olhar para a frente e saber que a vida é uma roda gigante: ora você está embaixo, ora você pode voltar lá para cima. Passei por muitos cargos públicos e sempre que estive neles busquei errar menos e acertar mais. Fica o aprendizado de que a gente deve ter cuidado com os pré-julgamentos, pois pode estar condenando injustamente pessoas inocentes.
Natural de São José de Piranhas e originário da construção civil, Cícero atuava nos bastidores em campanhas eleitorais decisivas do PMDB, quando o partido era presidido no Estado pelo falecido senador Humberto Lucena. Na campanha eleitoral de 1990, foi convencido por Ronaldo Cunha Lima, após uma conversa no antigo hotel Manaíra, a ser seu companheiro de chapa na disputa ao governo do Estado, de que participaram, ainda, o ex-governador Wilson Braga e o ex-deputado federal João Agripino Neto. A chapa Ronaldo-Cícero derrotou Braga no segundo turno, contando com o apoio significativo do ex-candidato João Agripino Neto. Lucena ocupou a secretaria de Planejamento do Estado no governo Cássio Cunha Lima, foi secretário de Políticas Regionais, com status de ministro, no governo Fernando Henrique Cardoso, e sua mulher, Lauremília Lucena, foi vice-governadora de Cássio Cunha Lima na primeira gestão deste à frente do Executivo, a partir de 2003.