Da Redação, com Worney Almeida de Souza e Jaime Klintowitz
A República brasileira completa hoje 130 anos de existência, vivendo entre períodos conturbados de revoltas, golpes, contra-golpes e momentos democráticos. No cenário político, a República viveu nas mãos de lídetes carismáticos e populistas (conservadores e progressistas). A instalação foi no dia 15 de novembro de 1889, depondo o imperador Dom Pedro II e sua dinastia. A força motriz do golpe foram os militares com inspiração positivista, mas a sustentação econômica e estrutural adveio dos cafeicultores, que haviam perdido suas posses com a abolição da escravatura. O regime criou uma estrutura federal com o poder centralizado no Palácio do Catete, no Rio. Floriano Peixoto estabilizou a nova governança com mão de ferro, enquanto Prudente de Moraes recebeu uma República consolidada.
O historiador Aristides Lobo descreveu: “O povo assistiu àquilo bestificado, atônito, surpreso, sem conhecer o que significava. Muitos acreditaram seriamente estar vendo uma parada”. Deodoro da Fonseca estava de cama, com febre alta e falta de ar quando foi chamado na manhã de 15 de novembro de 1889. Ele sofrera uma crise de asma e o médico recomendara repouso, mas Deodoro saiu assim mesmo, pois assumira o compromisso de derrubar a monarquia naquele dia. Leal ao imperador, por toda a vida, o velho marechal aderiu à conspiração às vésperas do golpe. Deodoro não tinha paciência para o jogo político de uma democracia, que, na melhor das hipóteses,durou um mês. A censura à imprensa foi imposta já no dia seguinte ao golpe. Deodoro comandou o governo provisório e, a seguir, foi nomeado presidente pela Assembleia Constituinte. Meses depois, ele dissolveu o Congresso Nacional. Por fim, em novembro de 1891, abalado pela balbúrdia, renunciou em favor do vice, Floriano Peixoto.
O novo presidente, líder da facção republicana conhecida como “os jacobinos”, tinha mão pesada. Apertou o parafuso da ditadura, usou da força para depor governos estaduais e esmagou com crueldade rebeliões na Armada e em alguns Estados. Ganhou a alcunha pouco lisonjeira de “Marechal de Ferro”. O primeiro presidente civil, Prudente de Moraes, assumiu em 1894. A estabilidade constitucional somente veio aos poucos, consolidando-se apenas na década seguinte. Com Prudente de Moraes foi inaugurada a fórmula política denominada “café-com-leite”, onde as oligarquias regionais dividiam o poder federal, que ficou sob alternância inicial de São Paulo e Minas Gerais.
Os governos da chamada Primeira República tiveram situações-limites no âmbito internacional como a I Guerra Mundial e a grande crise financeira mundial, que começou em 1929. De 15 de novembro de 1889 até 31 de dezembro de 2018, considerando-se o final do mandato de Michel Temer, passaram-se 129 anos. Nesse período, o Brasil teve 52 períodos presidenciais divididos em vinte e duas eleições diretas, oito eleições indiretas, três membros do Legislativo investidos no poder na ausência do vice-presidente, um membro do Poder Judiciário investido no poder, um regime parlamentarista, dois presidentes que morreram no cargo, três presidentes eleitos que não tomaram posse, nove vice-presidentes empossados, um vice não empossado mesmo com impedimento do titular, dois governos provisórios, três juntas militares, três presidentes renunciantes, seis mandatários à frente de mais de uma gestão e 29 civis tornados presidentes.
Getúlio Vargas foi o que mais tempo ocupou o cargo: 18 anos. Carlos Luz foi o que menos tempo foi considerado presidente – três dias. Tancredo Neves foi o mais velho a ser eleito, aos 75 anos, mas não assumiu. Os que chegaram ao cargo com idade mais avançada foram Nereu Ramos, Ernesto Geisel, Fernando Henrique Cardoso, no segundo mandato e Getúlio Vargas, todos com 67 anos, e o mais jovem foi Fernando Collor, com 40 anos de idade. Este sofreu processo de impeachment em 1992. A Revolução de 1930 conduziu Getúlio Vargas ao poder e recolocou o governo federal na cena política. O governo provisório limitou os poderes das oligarquias regionais, tanto que causou a chamada Revolução de 1932 – quando a liderança paulista se rebelou contra o centralismo federal. Mesmo com a promulgação da Constituição de 1934, Getúlio Vargas logo instaurou o chamado Estado Novo, quando fechou o Congresso, perseguiu os opositores e governou de forma ditatorial. No período também se aproximou dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial, apesar de flertar com a Alemanha no início do conflito, instaurou a indústria pesada (siderurgia), consolidou as leis trabalhistas e se tornou um populista, na figura do “pai dos pobres”, tendo se suicidado a 24 de agosto de 1954 dentro do Palácio.