Nonato Guedes com “Congresso Em Foco”
O encontro terça-feira, em São Paulo, entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, do PSB, foi o pontapé para a agenda de contatos com líderes e partidos oposicionistas que a estrela petista pretende deflagrar para articular uma frente com vistas a derrotar o governo do presidente Jair Bolsonaro e seus aliados regionais nas eleições a prefeito, vice-prefeito e vereador, no próximo ano. Foi o que informou ao site “Congresso Em Foco” o senador pernambucano Humberto Costa, do PT, adiantando que terá conversa, sim, com o próprio PDT, onde o ex-governador Ciro Gomes é visto como “radical anti-Lula”.
De acordo com Humberto Costa, o diálogo com Ricardo Coutinho foi importante pelo fato de que o ex-governador paraibano representa um “braço da esquerda” no Estado, assumindo postura permanentemente crítica a Bolsonaro. Coutinho é o presidente da Fundação João Mangabeira, uma espécie de instituto de estudos políticos do PSB e tem promovido rodadas de debates com amplitude nacional sobre a conjuntura resultante da ascensão da “direita” ao poder, que seria representada por Jair Bolsonaro e seus adeptos. Além do mais, como notou Humberto Costa, Ricardo manteve canais, como governador, com o Partido dos Trabalhadores, ao qual já esteve filiado, e demonstrou consideração tanto com relação a Lula como com relação à ex-presidente Dilma Rousseff, anfitrionando-os “com honras” no Estado.
Dilma teve solidariedade do então governador paraibano quando enfrentava o processo de impeachment na Câmara dos Deputados, cujo desfecho foi o seu afastamento do cargo com a ascensão do vice Michel Temer. Já o ex-presidente Lula foi recepcionado por Ricardo quando da chegada das águas do projeto de transposição do rio São Francisco, em pleno governo do presidente Michel Temer. Além de desfilar ao lado de Lula e de Dilma na região do cariri paraibano, Ricardo deixou cravado o seu reconhecimento ao ex-presidente petista por ter “concretizado uma obra que para os nordestinos tem o caráter de redenção”. Posteriormente, Ricardo visitou Lula na prisão, na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba.
Conforme o relato de Humberto Costa, na audiência com Lula o ex-governador Ricardo Coutinho falou da desesperança em Estados do Nordeste quanto a benefícios por parte do governo do presidente Jair Bolsonaro, insinuando que há uma represália velada do capitão reformado por não ter conseguido abalar o prestígio político de Lula na região. Bolsonaro esteve na Paraíba nos últimos dias, inaugurando um conjunto habitacional em Campina Grande, que é governada por um prefeito do PSD, Romero Rodrigues, aliado do ex-senador Cássio Cunha Lima, um dos maiores críticos das gestões petistas quando atuava no Congresso Nacional. A informação repassada por Coutinho criou junto a Humberto Costa a confiança de que o PT e o ex-presidente terão espaços em localidades nordestinas já nas eleições do ano vindouro.
Apesar de restrições internas, no PT, a uma aproximação com o PDT devido a atitudes do ex-ministro Ciro Gomes contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o senador Humberto Costa é de opinião que os pedetistas não devem ser marginalizados do entendimento no campo da esquerda e da oposição a Jair Bolsonaro, justificando que Carlos Luppi, dirigente nacional pedetista, visitou o ex-presidente Lula na sala especial em que esteve recolhido por um ano na PF em Curitiba.
Na Paraíba, a vice-governadora Lígia Feliciano, que está no exercício do mandato devido a viagem de João Azevêdo ao exterior, é filiada ao PDT, cujo diretório regional é presidido pelo seu marido, o deputado federal Damião Feliciano. Já o governador João Azevêdo teve divergências inesperadas com Ricardo Coutinho e está prestes a bater o martelo pelo ingresso em outra legenda, mas não dá sinais de que pretenda se distanciar de Lula e do PT, tanto assim que comentou com alegria a soltura do ex-presidente pelo Supremo Tribunal Federal com a observação de que foi uma decisão tardia que, no entanto, fez justiça ao ex-mandatário.