Nonato Guedes
Os signos políticos do presidente Jair Bolsonaro e do governador da Paraíba, João Azevêdo, não se cruzam – entre eles não há afinidade ideológica nem de modelo de gestão. Azevêdo foi eleito pelo Partido Socialista Brasileiro, que é tido como legenda de centro-esquerda, e Bolsonaro chegou à Presidência nas asas do PSL, identificado com a direita e o conservadorismo. Na atual conjuntura, porém, há um ponto de união entre os dois governantes: cada um procura uma outra sigla partidária para sobreviver politicamente. O governador e o presidente estão sendo praticamente “intimados” por ex-aliados a deixar os partidos que já não controlam. No caso do presidente, o PSL é dominado por um grupo liderado pelo deputado federal pernambucano Luciano Bivar, advogado. Os ex-aliados se desentenderam sobre candidaturas e estratégias para as eleições municipais do próximo ano. Para não pagar o preço de um desgaste, Bolsonaro anunciou a saída do PSL e a migração para uma sigla cujo desenho é uma incógnita.
Em relação a Azevêdo, ele está deixando o PSB por causa de divergências com o antecessor, Ricardo Coutinho, que destituiu o antigo diretório regional dirigido por Edvaldo Rosas, secretário de Governo, e assumiu a presidência de uma comissão provisória estadual que tem o desafio de recompor a agremiação a tempo de fazer bonito nas eleições municipais a prefeito, vice-prefeito e vereador, em outubro do próximo ano. Azevêdo, que neste momento está na Europa participando de uma comitiva de gestores nordestinos em busca de investimentos, tem algumas ofertas de partidos já existentes para se filiar e até assumir o comando, se o desejar. Oficialmente, nada revela em termos de definição. A última informação repassada aos jornalistas foi a de que ainda estão sendo feitas consultas sobre o partido ideal para acomodar o governante e seus aliados.
Ricardo, além de ser um político experiente e um administrador respeitado (governou a Paraíba por duas vezes e foi prefeito de João Pessoa também em duas ocasiões), demonstra habilidade em termos de articulação, de que é exemplo o canal direto que ele mantém com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PT, ao qual já pertenceu. No PSB, o grupo “ricardista” defende que ele volte a concorrer à prefeitura da Capital como forma de impulsionar a legenda e fazer face ao rolo compressor do governo estadual. Há outros nomes insinuados para candidaturas, como os do deputado federal Gervásio Maia e os das deputadas estaduais Cida Ramos e Estelizabel Bezerra. Mas o nome de Coutinho é praticamente consensual, inclusive, por ser João Pessoa seu berço político, pela qual se elegeu, ainda, vereador e deputado estadual. Azevêdo espera herdar uma minoria remanescente do PSB e vitaminar sua nova legenda com alianças junto a outros partidos que estão na base de sustentação do governo, a exemplo do PTB e do Democratas.
O governador está sendo cobrado a apresentar um nome forte para disputar a prefeitura pessoense, especialmente se Ricardo assumir-se como postulante do PSB. Mas em relação ao nome, Azevêdo não dá nenhuma pista e, enquanto isso, os partidos da base do governo anunciam candidaturas próprias num primeiro turno, com isto pulverizando o cenário eleitoral de 2020. Para alguns analistas políticos, faltam a Azevêdo “conselheiros” com a habilidade de Ricardo para emplacar um nome capaz de receber votos por osmose. A preocupação não se restringe apenas à Capital, mas envolve Campina Grande, a segunda cidade do Estado e municípios médios de diferentes regiões que são decisivas no mapa eleitoral do Estado. Em Campina, o “staff” do governador aposta no senador Veneziano Vital (ainda no PSB) como alternativa mais viável para o confronto à sucessão de Romero Rodrigues (PSD). Mas Veneziano tem trabalhado com outra hipótese – a de lançamento de sua própria mulher, a doutora Ana Cláudia, como candidata.
Os analistas políticos consideram que o impasse nas hostes do Partido Socialista chegou na hora errada para João Azevêdo, quando ele vive ainda o primeiro ano de gestão, está às voltas com desafios para equacionar e, em paralelo, sofre a pressão de uma denominada Operação Calvário, que envolve ex-secretários e auxiliares de Coutinho em irregularidades administrativas, o que indiretamente afeta o ritmo de trabalho do governo no tocante às demandas da população.
Sobre o futuro partidário de Bolsonaro, ele conta com uma vantagem – há um exército de aliados trabalhando a todo vapor para acomodá-lo bem em outra agremiação. Para Azevêdo, está em jogo um cenário inteiramente novo, atípico, para o qual ele não se preparou com a devida antecedência e no qual precisa demonstrar liderança e competência política.
A expectativa é de que até dezembro haja um prenúncio de alternativa para o grupo que decidiu acompanhar Azevêdo na queda-de-braço com o antecessor, Ricardo Coutinho.