O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prestigiou no domingo o Festival Lula Libre, em Recife, que contou com artistas como Lia de Itamaracá e o cantor e compositor paraibano Chico César, ex-secretário de Cultura nos governos de Ricardo Coutinho (PSB). Lula fez um pronunciamento especial ao povo nordestino. De mãos dadas com Lia de Itamaracá, o petista fez breves críticas ao governo de Jair Bolsonaro, assim como ao ex-juiz Sergio Moro, atual ministro da Justiça, e ao procurador Deltan Dallagnol, da Operação Lava-Jato em Curitiba.
“Cultura pra eles é coisa de comunista. Mas cultura pra gente é libertação. É educação e conhecimento”, disse o ex-presidente. “Eles estão destruindo o país em nome do quê? Estão destruindo os empregos em nome do quê? Estão alimentando o ódio em nome do quê? A Globo alimenta a mentira em nome do quê?”, continuou. “Não quero privilégio, quero que julguem meu processo”, disse. Em seguida, o ex-presidente lembrou as “conquistas” do seu governo para os mais pobres, em especial a expansão das universidades federais pelo país. “Vocês não sabem a alegria que tive quando inaugurei a Universidade Federal do ABC. E a primeira pessoa a se inscrever na UFABC foi uma pernambucana de Recife, que foi fazer engenharia”, afirmou, sendo logo ovacionado pelo público.
Lula, que esteve na Bahia nos últimos dias, tomou banho de mar em Salvador e comentou, em redes sociais, que estava usufruindo os momentos de libertação, depois de cerca de 580 dias recolhido à uma sala da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. Ele figura em processos nos quais é acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, mas insiste em dizer que é inocente e que é alvo de perseguição política. Por outro lado, a revista “Fórum” revela que tanto o ex-presidente Lula quanto o governador de São Paulo, João Doria, do PSDB, tentam aproximação com meios militares, vislumbrando nisso uma estratégia de governo. Lula deverá tentar diálogo com as Forças Armadas para entender posicionamentos em temas econômicos e políticos, incluindo a postura com relação ao próprio PT. Já Doria tentará se aproximar dos generais como estratégia para 2020 em meio ao aumento de desconfiança com relação ao presidente Jair Bolsonaro.
O ex-presidente busca entender as causas de certa aversão da cúpula militar ao seu partido. Na época em que o Supremo Tribunal Federal votava o habeas corpus de Lula, em 2018, o então comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, chegou a escrever uma mensagem no Twitter condenando a “impunidade” e dizendo que os militares estavam atentos às suas missões institucionais. Já a aproximação de João Doria com as Forças Armadas busca preencher uma lacuna que Bolsonaro abriu, principalmente ao protagonizar demissões de generais de cargos de destaque do governo federal. Doria ainda visualiza nos militares uma parceria para a sua disputa nas eleições de 2022, já que ele tem apostado na redução dos índices de criminalidade em São Paulo como vitrine eleitoral. O plano defendido por aliados do tucano é o de atrair para a gestão estadual nomes de militares “de peso”, entre eles egressos da administração bolsonarista, e o de filiar sargentos e generais ao PSDB, dessa forma construindo uma política de segurança pública que rivalize com o discurso de Bolsonaro. No mês passado, Doria se reuniu no Palácio do Planalto com o vice-presidente Hamilton Mourão, também general da reserva. O encontro foi solicitado pelo tucano.