Nonato Guedes, com agências
O ator e ativista político Milton Gonçalves, ao comentar o transcurso, hoje, do Dia da Consciência da Igualdade Racial, externou um grande sonho seu: ver o Brasil tendo um presidente da República negro. Ele foi candidato a governador do Estado do Rio em 1994, sem obter êxito e diz que não teme ser criticado ou chamado de racista por revelar essa aspiração. Milton frisou que ficaria muito feliz com um presidente da República negro, tal como ficou com a eleição de Barack Obama para a presidência dos Estados Unidos, tendo como primeira-dama Michelle Obama, uma figura culta e ao mesmo tempo sensível aos problemas sociais. Obama, segundo o noticiário, teria chamado o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de “o cara”, festejando a ascensão de um ex-líder metalúrgico à suprema magistratura da nossa Nação.
O ex-ministro Joaquim Benedito Barbosa, natural de Minas Gerais, que foi presidente do Supremo Tribunal Federal, estando hoje aposentado e atuando como advogado, chegou a ser cogitado como opção para disputar a presidência da República na fase recente da história política brasileira, em meio aos escândalos que atingiram líderes e partidos, sobretudo o Partido dos Trabalhadores fundado e ainda hoje liderado por Lula. Entre 2012 e 2014, Joaquim Barbosa teve profícua atuação à frente do STF. Mas ele se destacou, antes, no papel de relator do processo do mensalão – a compra de apoio político de partidos pelo PT ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O julgamento do mensalão foi histórico nos anais do Supremo Tribunal Federal e os integrantes da Corte se debruçaram sobre uma pilha de depoimentos e de informações, com provas irrefutáveis, colhidas em processos que foram instaurados, envolvendo expoentes da direção nacional do PT, ex-ministros dos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e proprietários de empreiteiras que financiaram campanhas eleitorais de candidatos do PT e de partidos aliados através de “caixa dois”. O ministro Carlos Ayres de Brito, ao proferir um dos seus votos no demorado julgamento do mensalão, considerou a falcatrua como “um ponto fora da curva”. Figuras como o ex-ministro José Dirceu, que teve plenos poderes à frente da Casa Civil no governo de Lula, foram denunciadas e presas como mentoras do esquema de “mesada” distribuída com parlamentares e cúpulas partidárias. O principal delator do mensalão foi o ex-deputado federal Roberto Jefferson, então presidente do PTB, que garantiu que o ex-presidente Lula tinha conhecimento do pagamento do “mensalão”.
O ex-presidente nunca confirmou responsabilidade sua nas transações financeiras, mas chegou a fazer um pronunciamento ao país pedindo desculpas por atitudes comprometedoras de filiados do Partido dos Trabalhadores, agremiação que nasceu defendendo a ética em primeiro lugar e jurando que iria se diferenciar das agremiações tradicionais. Delúbio Soares, ex-tesoureiro do Partido dos Trabalhadores, chegou a definir o uso de caixa dois como a prática de “recursos não contabilizados”. Um dos agenciadores do esquema era o publicitário Marcos Valério, que teria tido participação, também, na montagem do “mensalão” do PSDB de Minas Gerais, pelo qual, tempos depois, foi condenado o ex-governador Eduardo Azerêdo, que teria se utilizado de dinheiro ilícito na campanha ao governo das Alterosas.
Em meio à repercussão dos episódios, com críticas veementes na imprensa internacional, a figura de Joaquim Barbosa impôs-se acima dos demais ministros do Supremo Tribunal Federal. O rigor com que ele se manifestou nos autos – não obstante tenha sido indicado pelo ex-presidente Lula da Silva para a Corte – credenciou-o ao respeito dos diferentes círculos sociais, políticos, econômicos e culturais no Brasil. Foi quando passou a ser articulado o balão de ensaio de uma provável dele à Presidência da República. Joaquim Barbosa ficou animado com a hipótese e liderou pesquisas de opinião pública ou sondagens que chegaram a ser feitas, mas não demonstrou habilidade política na relação com integrantes de cúpulas de partidos de esquerda e acabou sendo preterido e caindo no esquecimento como alternativa ao Palácio do Planalto. Em todo caso, entrou para a História como o primeiro ministro negro do Supremo Tribunal, a mais alta Corte de Justiça brasileira.