Nonato Guedes
A jornalista paraibana Rachel Sheherazade, apresentadora do telejornal SBT Brasil, lamentou, em depoimento na “Folha de São Paulo” e nas redes sociais a morte da jornalista Lena Guimarães, ex-editora e colunista política do “Correio da Paraíba”. Sheherazade salientou que Lena foi a primeira mulher a comandar uma redação na Paraíba e que abriu caminho “para muitas de nós”. E acrescentou: “Foi uma mulher incrível, desbravadora e uma grande jornalista. Meu primeiro teste de televisão para a afiliada da Rede Record na Paraíba foi avaliado por ela”.
E prossegue Sheherazade: “Lena me entrevistou. Naquela tarde, fui a última candidata a entrar em sua sala. Estava nervosa. Era a primeira entrevista de emprego à qual me submetia. Lena foi gentil. Elegante. Fez-me sentir em paz. Para quebrar o gelo, perguntou-me sobre o meu segundo nome, Sheherazade, e eu contei-lhe sobre as mil e uma noites. Enxergou além da minha timidez e conseguiu extrair o melhor de mim. Como se fosse pouco ser mulher, mãe, jornalista, Lena ainda garimpava talentos. Tenho muito orgulho de ter sido sabatinada por ela. Passei pelo seu meticuloso crivo. Posso dizer que fui escolhida por ela para assumir aquela única vaga de repórter no ano 2000. Lena Guimarães tocou muitas vidas e de forma maravilhosa. Tocou a minha também. Obrigada”.
Rachel Sheherazade trabalhou, também, na TV Tambaú, em João Pessoa. Foi um comentário seu, criticando o “carnaval fora de época” de João Pessoa, que despertou a atenção do empresário e apresentador Sílvio Santos, que recomendou a seus diretores a contratação da profissional. Radicada há vários anos em São Paulo, ganhou espaços na mídia nacional como uma âncora polêmica, tendo sido hostilizada por petistas e, ultimamente, por bolsonaristas. O empresário Luciano Hang, dono da Havan e amigo pessoal do presidente Jair Bolsonaro, que pagava comerciais do seu complexo automobilístico no SBT, pediu publicamente a Sílvio Santos a demissão de Sheherazade, acusando-a de “impatriótica”. Sílvio já havia vetado comentários políticos de Rachel no telejornal do SBT. A apresentadora passou a produzir podcasts que são regularmente veiculados no You Tube, com análises de fatos de repercussão.
Ainda ontem, ela se manifestou sobre o racismo, lamentando que o preconceito e a discriminação continuem sendo marcas dominantes no Brasil. Lembrou um vídeo antigo, há cinco anos, em que falava sobre o racismo e disse constatar, com tristeza, que de lá para cá pouca coisa mudou. “E se mudou foi para pior”, acrescentou, pontuando: “Em vez de caminharmos altivos rumo ao futuro, seguindo a evolução do pensamento, da civilização, nós retrocedemos como humanidade”. Durante o dia de ontem, em redes sociais e órgãos de comunicação, inúmeros artistas e intelectuais se pronunciaram contra a predominância do racismo, que, conforme disseram, ainda é bastante profunda na sociedade brasileira.