Nonato Guedes
A primeira reunião dos socialistas paraibanos sem a participação de aliados do governador João Azevêdo e com a presença dominante de discípulos do ex-governador Ricardo Coutinho, realizada ontem, em João Pessoa, deixou clara para analistas políticos uma constatação: não é Ricardo o nome do PSB para disputar novamente a prefeitura da Capital em 2020 mas, sim, o deputado federal Gervásio Maia Filho. Coube ao próprio Ricardo, que ora preside a comissão provisória estadual do PSB, substituta do diretório regional que foi dissolvido com o apoio da cúpula nacional, sinalizar que ele não é necessariamente o expoente para a futura disputa. O ex-governador descartou aspirações individualistas e focou em “projeto socialista”, salientando que ele pode ser empalmado por figuras credenciadas nas hostes da legenda.
O encontro, segundo versões que vazaram, não teve a representatividade almejada do ponto de vista de expressão numérica, o que foi atribuído à indefinição ainda reinante, com a permanência do governador e vários interlocutores nas hostes do PSB, embora os indícios sejam de desembarque nos próximos dias, com migração para outra legenda que possivelmente será o PDT, de acordo com oferta que foi formulada pelo ex-ministro e ex-presidenciável Ciro Gomes. Mas o ponto mais emblemático, mais marcante, na definição de um participante do encontro, foi a sinalização sobre o projeto político futuro de Ricardo, tido como líder maior no conjunto das atuais forças políticas estaduais. Por essa sinalização, Ricardo estaria mirando, em termos pessoais, não a disputa da prefeitura de João Pessoa, que ocupou em duas oportunidades, mas uma candidatura ao governo do Estado em 2022, contra João Azevêdo, se este decidir postular a reeleição.
Por ocasião do que chamou de “diálogo” com os socialistas, o ex-governador Ricardo Coutinho, que preside a Fundação João Mangabeira, espécie de instituto de estudos políticos do PSB nacional, teceu críticas pontuais, de forma direta, à administração do prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PV), que está á frente do segundo mandato. De forma indireta, ou subliminar, Ricardo alvejou a administração estadual capitaneada pelo ex-aliado João Azevêdo, enfocando pontos que não teriam tido continuidade. Ricardo deixou claro, então, que é imperiosa a retomada do que chamou de “projeto” dos socialistas na gestão pessoense, como ponto de partida para o desdobramento da luta pela retomada do poder estadual.
Coutinho, quando foi prefeito de João Pessoa, teve o ex-deputado Gervásio Bonavides Maia (já falecido), pai do deputado federal “Gervasinho”, como secretário de Finanças, dando-lhe autonomia para atuar como uma espécie de xerife da administração municipal. Apoiou a articulação para eleger Gervásio Filho à presidência da Assembleia Legislativa e envidou esforços para que ele deixasse as fileiras do PMDB (atual MDB) e ingressasse “com honras” no Partido Socialista. Foi pela legenda do PSB que Gervásio Filho se elegeu à Câmara Federal, com votação expressiva, lastreado no reforço da estrutura de que dispunha. É o único deputado federal pelo PSB da Paraíba e, no confronto entre Ricardo e João Azevêdo, não titubeou em ficar ao lado de Coutinho. Em eleições anteriores à prefeitura de João Pessoa, quando era governador, Ricardo testou as candidaturas de Estelizabel Bezerra e Cida Ramos, atuais deputadas estaduais, que sequer foram ao segundo turno. Agora, na opinião de analistas credenciados junto ao seu próprio círculo, aposta fichas na viabilidade da candidatura de Gervásio que, se for derrotado, continuará mantendo o mandato n Câmara Federal.