Nonato Guedes
Aboletado no comando do Partido Socialista Brasileiro na Paraíba sem precisar mais dividir espaços com o governador João Azevêdo, de quem está distanciado por sérias divergências, o ex-governador Ricardo Coutinho aproveitou a primeira plenária do partido, sob seu comando, realizada na sexta-feira à noite em uma igreja evangélica no conjunto Gervásio Maia, para proferir desabafos e mandar recados subliminares de forma aleatória. Declarou, por exemplo, que há quinze anos “eu tenho a mesma caminhada política” e, ao insistir na questão da coerência, foi enfático: “Não traio ninguém; eles que me traem”.
A referência de Ricardo a “traições” reacende, nos meios políticos, uma discussão sobre deslealdades e quebra de compromissos que é recorrente entre lideranças políticas paraibanas e ganha ares de radicalização em situações de rompimento, como a que atualmente se verifica entre Coutinho e o governador João Azevêdo. Nessa matéria, não há a menor possibilidade de consenso, como reconhecem analistas políticos. No reverso das insinuações a esmo dirigidas por Coutinho, há registro de acusações de que ele teria traído pelo menos três lideranças respeitáveis no cenário estadual: os ex-governadores Cássio Cunha Lima, do PSDB, José Maranhão (atual senador), do MDB, e o governador de plantão, João Azevêdo. Este, foi lançado por Ricardo à sua sucessão em 2018 como uma espécie de candidato “in pectoris”, embora não tivesse tido qualquer experiência política-eleitoral no currículo até então, logrando vitoriar no primeiro turno com o engajamento ostensivo de Coutinho e seus aliados. Em poucos meses à frente do poder, Azevêdo sentiu-se apunhalado pelo grupo de Ricardo com a dissolução do antigo diretório regional do PSB e a destituição de Edvaldo Rosas, que é secretário de Governo de João, da presidência do partido. Em seu lugar, investiu-se o próprio Ricardo, à testa de uma comissão provisória que, com o aval da cúpula nacional, se propõe a recompor uma legenda que havia crescido nas eleições majoritárias e proporcionais no ano passado.
Interlocutores de João Azevêdo queixam-se que o processo de dissolução do diretório estadual equivaleu a uma “intervenção”. Os mais radicais falam, até mesmo, em “operação manu militari” que teria sido empreendida pelos “ricardistas” para desalojar aliados de Azevêdo de qualquer influência nas hostes do PSB. A cúpula nacional ainda tentou mediar uma recomposição entre Ricardo e o governador, através do presidente Carlos Siqueira, que convocou uma reunião em Brasília, inviabilizada pelo desinteresse de Azevêdo em comparecer. A nível local, líderes como o senador Veneziano Vital do Rêgo fizeram gestões para promover uma reconciliação, mas não encontraram espaço para tanto. A dados de hoje, políticos do PSB paraibano avaliam o rompimento como inevitável, faltando, apenas, uma definição do governador João Azevêdo sobre o partido a que vai se filiar e quem irá acompanhá-lo.
Ricardo Coutinho avaliou como positiva a primeira plenária que comandou no novo PSB da Paraíba, apesar da falta de representatividade maior. “O importante é que estamos escutando o povo e este é o melhor e mais democrático caminho para o fortalecimento da atividade política”, expressou ele. O deputado Gervásio Maia chamou a atenção para o caráter de “diálogo sobre João Pessoa”, observando que os socialistas largam na frente no diagnóstico dos problemas da Capital e na proposição de alternativas para equacioná-los. “O PSB tem uma metodologia própria de interação com a população, seguindo, inclusive, uma recomendação da direção nacional”, definiu Gervásio Maia.