Nonato Guedes
A pergunta pode parecer impertinente, já que ainda não há um processo formal de abertura do Aliança pelo Brasil, novo partido do presidente Jair Bolsonaro, no Tribunal Superior Eleitoral. Depois da desfiliação dos quadros do PSL, onde já não conseguia dividir o metro quadrado com o grupo do deputado pernambucano Luciano Bivar, o presidente participou da primeira convenção nacional do Aliança pelo Brasil e foi aclamado presidente da legenda. Mas a fase é, nitidamente, de coleta de assinaturas de cidadãos de todo o país que concordam com sua criação. Na prática, serão 500 mil assinaturas, segundo cálculo do TSE, a quem cabe conferi-las. O processo tende a ser demorado, salvo se houver um “jeitinho” que acomode as coisas. Aliados do presidente – ou do poder de plantão – pressionam pela legalização porque têm espaços a preservar nos seus redutos e avistam um cenário de nova disputa eleitoral, desta feita envolvendo o pleito para prefeitos, vice-prefeitos e vereadores, em 2020.
Nesse contexto, há uma curiosidade natural sobre quem vai cuidar da formação do Aliança na Paraíba, Estado que o presidente visitou recentemente, atendendo a um convite do prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues, que é do PSD e não demonstra interesse em migrar para outra sigla. Romero chegou, inclusive, a deixar o PSDB, do seu parceiro político, o ex-senador Cássio Cunha Lima, por ambicionar ter autonomia à frente de um partido que possa chamar de seu. Especula-se que o deputado federal Julian Lemos, eleito pelo PSL e que se apresentou como coordenador da campanha de Bolsonaro na Paraíba e no Nordeste, seja carta fora do baralho nas hostes do “Aliança”, até porque tem áreas de atrito incontornáveis com filhos do presidente, um dos quais apelidou-o de “papagaio de pirata”. A tendência de Lemos seria, então, resistir no PSL ou, se for o caso, buscar outra alternativa se houver flexibilidade na janela prevista em lei.
Quando eclodiu o desentendimento de Bolsonaro com Luciano Bivar, sinalizando que o presidente iria bater em retirada do PSL, o deputado Julian Lemos deu declarações dando a entender que o PSL não iria, necessariamente, desligar-se da base de apoio ao governo no Congresso Nacional. Pode ter sido uma tática de Lemos para não perder os dedos das mãos, já que os anéis estão indo embora, teoricamente, com a alusão clara, feita por Bolsonaro, de que o PSL “já era” e havia se tornado um “partido queimado”, devido às denúncias de irregularidades refletidas na anabolização de candidatas “laranjas” com o fito de facilitar o avanço ou acesso à cobiçada quota do Fundo Partidário. Conhecendo-se, como o Brasil está conhecendo, o estilo de Bolsonaro de jogar pesado, sem contemplação, quando julga conveniente fazê-lo, seria ingênuo esperar que o presidente seja generoso com a legenda pela qual concorreu e vitoriou ao Palácio do Planalto, derrotando o “aparelhado” mas desgastado Partido dos Trabalhadores.
A mídia nacional chegou a mencionar declarações do deputado estadual cabo Gilberto como candidato a expoente da nova legenda de Bolsonaro na Paraíba, mas, chamado à colação, o mandatário pôs o parlamentar em “saia justa” num primeiro momento, alegando não ter com ele o grau de aproximação que foi noticiado. Depois, como é praxe no “modus operandi” de Bolsonaro, ele tentou contornar as coisas, distensionando o tom das observações feitas ao sabor do impulso. Seja como for, a incógnita está no ar sobre os emissários do “Aliança pelo Brasil” na Paraíba, o que reforça, igualmente, a indefinição sobre montagem de projetos viáveis de candidaturas a prefeito em redutos importantes do nosso Estado. Aqui, o confronto se dará entre o ex-governador Ricardo Coutinho, sendo ou não candidato a prefeito de João Pessoa, e o resto que não quer conversa com RC. A conjuntura nacional pode ter influência do ponto de vista da retórica eleitoreira, para opor Luiz Inácio Lula da Silva,o “pajé” petista que está solto (até quando?) à gestão de Bolsonaro.
Pela moldura do quadro partidário que vai se esboçando para a participação nas eleições municipais de 2020 na Paraíba, não será difícil que aconteça uma fragmentação política sem precedentes na história recente do Estado, com pulverização de candidaturas próprias de partidos que possuem até afinidades no contexto macro mas que não abrem mão de particularidades que perseguem dentro de interesses expansionistas. Um exemplo emblemático foi a frase do deputado Efraim Filho de que o DEM terá candidato próprio a prefeito de João Pessoa, independente da posição do governador João Azevêdo. Sua explicação? “Cansamos de ser coadjuvantes”. Pois é!