São fortes os indícios de que verba eleitoral pública do Democratas nacional foi desviada por meio da maior candidatura laranja das eleições de 2018, revela uma investigação efetuada pela Polícia Federal. Uma mulher do Acre, que oficialmente concorreu a deputada estadual, recebeu R$ 240 mil do diretório nacional do DEM, declarou ter contratado 46 pessoas para atividades de mobilização de rua, entre as quais dois coordenadores de campanha, além de promover o aluguel de dezesseis automóveis, confecção de “santinhos” e contratação de anúncios, recebendo, ainda, R$ 39.500 em material eleitoral doado.
Não obstante o aparente grande aparato montado na campanha, a policial militar Sonia de Fátima Silva Alves obteve apenas seis votos, tornando-se a candidata com o voto mais caro do país – foram R$ 46,6 mil de verba pública por apoiador, sem que a grande parte dos apoiadores tenha sequer sufragado seu nome nas urnas, preferindo embolsar o dinheiro. A maior parte da receita que a candidata declarou foi repassada por meio de uma transferência eletrônica assinada em 13 de setembro do ano passado por Romero Azevedo, tesoureiro nacional, e “A Magalhães NT” – Antonio Carlos Magalhães Neto, prefeito de Salvador e presidente nacional do DEM, partido que hoje comanda o Senado com Davi Alcolumbre e a Câmara Federal com Rodrigo Maia.
A reportagem da Folhapress teve acesso ao inquérito e revelou que Sonia foi utilizada como candidata laranja para desvio das verbas em proveito da campanha do deputado federal Alan Rik, presidente do diretório estadual do DEM e integrante da Executiva Nacional da agremiação. Relatório do delegado responsável Jacob Guilherme da Silveira Farias de Melo não faz considerações sobre o prefeito de Salvador e menciona artigo do estatuto partidário, fixando que os comitês financeiros regionais respondem civil e criminalmente por eventuais irregularidades no processo eleitoral. Diz o relatório: “Sendo Alan Rik o beneficiado direto com os gastos de campanha da candidata e tendo ele, ao mesmo tempo, controle do comitê financeiro, parece sinalizar que, sem eximir os demais membros do comitê de parte da responsabilidade, Rick Miranda é responsável pelas irregularidades identificadas.
Por meio de sua assessoria, o deputado Alan Rik afirmou que Sonia foi escolhida já perto da eleição para a vaga de uma candidata que havia desistido e que o expressivo repasse de verbas, decidido pela Executiva estadual, ocorreu para que ela pudesse reverter a situação de desvantagem. “Além de ingressar tardiamente na campanha, a candidata enfrentou diversos contratempos, a exemplo de erros na confecção do material de propaganda e grave enfermidade”, diz a resposta. O DEM nacional divulgou nota informando ter aprovado resolução em 2018 determinando a transferência direta das verbas para a conta bancária das candidatas mulheres e definido que as lideranças partidárias de cada Estado teriam responsabilidade em identificar a viabilidade eleitoral das concorrentes. O Democratas frisou que continua acompanhando os desdobramentos das investigações realizadas no Acre.