Nonato Guedes
Interlocutores do próprio prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PV), admitem, pelo menos “em off”, que no leque de opções que vai se abrindo para a sucessão dele, a ser disputada nas urnas no próximo ano, o secretário de Desenvolvimento Social Diego Tavares desponta como uma boa alternativa, senão a melhor, para figurar no páreo, com o sinete do atual alcaide e mediante alianças com outros partidos, já que, isoladamente, o partido do “clã” sousense não tem cacife para ir longe. A disputa se tornará tanto mais renhida se nela constar o ex-governador Ricardo Coutinho, atualmente dono do PSB e aparentemente detentor de uma parcela expressiva de preferências, pelo fato, até, de ter sido eleito duas vezes para a prefeitura.
Embora jovem, Diego não é jejuno na desgastante vida pública. Já foi secretário de Articulação Governamental, secretário de Comunicação e esteve à frente do Banco Cidadão, fomentando créditos para micros e pequenos empresários. Sua folha de serviços ampliou-se com a passagem pelo Instituto de Previdência do Município, onde foi responsável pelo fortalecimento do serviço público, realizando concurso para democratizar o acesso dos interessados em trabalhar. Na secretaria de Desenvolvimento Social, é reconhecido pelo alcance positivo do trabalho efetuado na proteção da criança e do adolescente, bem como no trabalho sério e inovador junto aos conselhos tutelares. Isto é o que foi destacado na sua trajetória durante recente homenagem com a outorga da Medalha Cidade de João Pessoa.
Há mais: filho do médico Reginaldo Tavares, que foi vice-prefeito da Capital numa das gestões de Cícero Lucena, Diego Tavares é de trato fácil, de diálogo aberto não apenas com os da sua geração, mas com representantes mais experientes do setor produtivo, com os quais debate a problemática pessoense e o grau de intervenção que o poder público tem condições de desenvolver em obras e serviços numa bem-sucedida articulação ou parceria (como é corrente denominar) com o segmento privado, mais diretamente: com os empresários. Essa empatia de Diego Tavares, de acordo com os depoimentos, facilita consensos e aglutina forças decididamente empenhadas na construção de um projeto que, tendo a assinatura intransferível dele, preserve elementos básicos da Era Cartaxo, que é bem aprovada junto à maioria dos habitantes da Capital da Paraíba.
Luciano, inclusive, foi uma grata surpresa ao passar pelo difícil teste no comando da administração pública em João Pessoa. Todo prefeito da Capital sabe o peso que é ser gestor deste pedaço privilegiado e importante do mapa geográfico do Estado e do Nordeste. Até então, o currículo de Cartaxo anotava uma breve passagem como vice-governador da Paraíba, o substituto de José Maranhão – ambos empossados às pressas, em 2009, num quadro de sangria desatada, diante da cassação da chapa formada por Cássio Cunha Lima-José Lacerda Neto. A conhecida centralização que Maranhão exerce no poder embaçou uma projeção maior de Luciano, até porque o governador já cogitava, novamente, a reeleição em 2010, o que se deu, mas sem a presença de Cartaxo na vice (o companheiro de chapa acabou sendo Rodrigues Soares, que por um tempo presidiu o PT estadual).
A oportunidade de ouro para Luciano veio com a atração que ele logrou viabilizar da adesão de outro Luciano – o Agra, então alçado à titularidade da prefeitura, com a renúncia de Ricardo Coutinho para disputar o governo. Agra havia sido garfado por Ricardo na pretensão de concorrer à reeleição em 2012 e, com isto, foi jogado no colo de Cartaxo, juntamente com o jornalista Nonato Bandeira, que ganhou a indicação para vice no confronto daquele ano. Foi tiro e queda: a chapa suplantou adversários que poderiam virar o jogo e deixou comendo poeira a candidata “in pectoris” ungida pelo governador Ricardo, a então secretária Estelizabel Bezerra, que não empolgou o eleitorado a ponto de levar a taça para o arraial socialista.
Na reeleição, já contando com Manoel Júnior, então PMDB, como candidato a vice, Luciano Cartaxo tirou de letra a prova dos noves e bateu as paradas, desta feita deixando pelo meio do caminho outra candidata testada por Ricardo Coutinho – a professora Cida Ramos, atual deputada estadual, tal como Estelizabel. Diz-se que, de um prefeito, o mínimo que o eleitor cobra é que seja um bom zelador das coisas da cidade. Parecia um figurino talhado para Cartaxo, que foi mais longe, inclusive, não se fixando apenas no varejo mas pensando alto, de forma ambiciosa, em projetos grandiosos e ao mesmo tempo exequíveis. O portfólio das duas gestões de Cartaxo é o trunfo que um candidato apoiado por ele pode exibir em 2020.Mas, diga-se a verdade, não é qualquer candidato. Diego Tavares talvez fosse um “achado” a ser lapidado pelo esquema cartaxista.