Nonato Guedes
Um eventual apoio à candidatura do ex-governador Ricardo Coutinho, do PSB, a prefeito de João Pessoa, desde que ele assuma esse projeto, faz parte do pacote de concessões que o petismo, sob a batuta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, está disposto a colocar na mesa para as eleições municipais do próximo ano. Da mesma forma, embora o próprio Lula tenha cogitado lançar Benedita da Silva à prefeitura do Rio, já houve acenos na direção de Marcelo Freixo, pré-candidato do PSOL. Em outras localidades haverá apoios pontuais a candidatos de legendas do chamado campo democrático-popular porque, no geral, a tendência do petismo é apostar em candidaturas próprias, como primeiro sinal concreto para revitalização do partido, depois da derrota sofrida para Jair Bolsonaro em 2018.
O “pajé” Lula da Silva aproveita os raios de liberdade que lhe foram concedidos para fazer as chamadas costuras regionais. É um território que ninguém, como ele, domina, graças ao conhecimento adquirido nas caravanas alternadas empreendidas pelo interior do país e graças, também, ao potencial de informações que Da Silva acumulou, no exercício da presidência da República, sobre o mapa político-eleitoral nas Capitais brasileiras. Na Paraíba não é à toa que Jackson Macedo, o dirigente estadual petista, sinaliza apoio a Ricardo ao invés de esgotar, internamente, o exame de opções petistas para candidaturas. Ele conhece as ligações estreitas entre Lula e Ricardo, bem como o respeito de Lula ao ex-governador por ter militado no PT e por ter assumido posições corajosas, colocando-se, por exemplo, contra o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, desafiando previsíveis retaliações emanadas de Michel Temer, o “vice conspirador” que, com um empurrão de Eduardo Cunha, então presidente da Câmara, viabilizou a operação que defenestrou Rousseff do Planalto.
A mínima reciprocidade que o Partido dos Trabalhadores poderia manifestar em relação a Coutinho é, de fato, apoiá-lo num projeto de candidatura em 2020 na Capital, torcendo para, pelo menos, indicar o candidato a vice, na expectativa de que RC não esquente cadeira, se eleito for, e já assuma com uma ideia fixa na cabeça: a de tentar voltar ao Palácio da Redenção em 2022, derrotando o próprio João Azevêdo que ele ajudou a eleger em 2018. Essa alusão a prováveis opções petistas para candidatura própria a prefeito de João Pessoa tem muito de balela, porque os nomes citados (como os do ex-deputado federal Luiz Couto e o do ex-deputado estadual Anísio Maia) não teriam densidade para vencer a parada e erguer a taça. De mais a mais, Luiz Couto tem andado quietinho no governo de João Azevêdo, onde ocupa uma secretaria que não repercute na mídia nem projeta o outrora combativo presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal. Já Anísio, como se sabe, é suplente de deputado e teria muito gosto se ascendesse ao mandato titular na Assembleia, mercê de prodigiosa artimanha de acomodação política que estaria mais para a caneta de Azevêdo do que para a alardeada liderança de Ricardo.
É assim que as coisas se desenrolam no âmbito da estratégia petista para ressurgir das urnas em alto estilo, vencendo a maré depressiva em que se encontra no plano nacional, com seu líder maior, o ex-presidente Lula da Silva, submetido a uma gangorra de “prende e solta” que desmonta psicologicamente qualquer pessoa e, ainda que temporariamente solto, contemplando a temível espada de Dâmocles na forma da ameaça de inelegibilidade por estar enquadrado na Lei da Ficha Limpa, que, no quadro das excentricidades do Brasil, o põe na condição de “ficha suja”, inabilitado, portanto, a disputar qualquer mandato à vista por um certo período que só será mesmo definido quando se exaurir o dramalhão jurídico da pena de prisão – ou o seu contrário. O PT vai para as eleições municipais nas principais Capitais brasileiras bastante vulnerável, como que alquebrado, pelos sucessivos golpes acumulados em série – do impeachment da Sra. Dilma Rousseff à prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que durante cerca de um ano ficou impedido de locomover-se pelo país em caravanas.
A eleição municipal do próximo ano é importante para o PT porque é a primeira do calendário político-eleitoral que se desenrola no país e porque envolve capitais importantes como São Paulo, Porto Alegre, Rio de Janeiro, ou, no Nordeste, Recife, Maceió, Fortaleza e, vá lá, João Pessoa, cujo atual prefeito, Luciano Cartaxo, em segundo mandato consecutivo, foi do PT mas não teve dificuldades para migrar para o PSD e, na sequência, para o PV, onde ora se encontra domiciliado. Mas os embates da lida política ensinaram o PT a ser pragmático – em algumas situações, pragmático além da conta. Depois de ter provado o gostinho do poder, o partido quer voltar a senti-lo, e, como no passado, faz qualquer negócio, desde que seu naco seja garantido. Daí essa sangria desatada para ficar bem na fita já em 2020. Afinal, em terra de sapos, de cócoras, como eles…