Nonato Guedes, com Folhapress
A relação com o Partido dos Trabalhadores é tema de debate de um encontro que o Partido Socialista Brasileiro realiza desde quinta-feira no Rio de Janeiro. No âmbito do PSB, os recentes discursos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva contrariaram até seus mais veementes defensores como o ex-governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, presidente da Fundação João Mangabeira, do PSB nacional. Para Coutinho, as falas de Lula desde a sua soltura da cela da Polícia Federal em Curitiba isolam o PT, como a de que o PT não nasceu para ser partido de apoio.
De acordo com a Folhapress, o ex-governador da Paraíba registrou que esse não era o papel que se esperava de Lula, que foi solto em oito de novembro após 580 dias de prisão. “Lula se portou muito mais como chefe de partido. O papel dele deveria ser de um líder com estatura para aglutinar mundialmente setores afinados com a democracia. Não entendi essa expressão mais localizada”, confessou Coutinho, que chegou a conversar com o ex-presidente três dias após a sua libertação, em São Paulo, mas não após os discursos endereçados ao PT.
No congresso do partido, ocorrido no último dia 22, o ex-presidente Lula queixou-se de o PT ser cobrado a fazer um mea-culpa, enquanto não se exige o mesmo de outras siglas. Nas palavras de Lula, “a autocrítica que o Brasil espera é a dos que apoiaram, nos últimos três anos, a implantação do projeto neoliberal que não deu certo em lugar nenhum do mundo”. Tais declarações também foram criticadas por dirigentes do PSB, que buscam descolar sua imagem da do PT. “Se o PT acha que não precisa fazer autocrítica, essa já é nossa maior diferenciação”, afirmou o ex-governador do Distrito Federal Rodrigo Rolemberg. Em seu discurso de abertura da Conferência Nacional da Autorreforma, o presidente do PSB, Carlos Siqueira, disse que o partido tem que assumir responsabilidade pelo trágico cenário que levou à eleição do presidente Jair Bolsonaro.
Siqueira frisou, ainda, que o partido não vai alimentar o que chamou de “estéril polarização” entre o PT e o governo do presidente Bolsonaro. Dirigentes do PSB insistiram na ideia de descolamento do PT para a construção de uma nova alternativa. “Não dá para o PT buscar permanentemente hegemonia no campo político”, alertou o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande. Já o pré-candidato do PSB à prefeitura do Rio, Alessandro Molon, afirmou que o PT não está em posição de jogar sozinho. O ex-deputado Beto Albuquerque, por sua vez, sustenta que não só o PT mas também o PSB tem que avaliar os erros cometidos que culminaram na eleição de Bolsonaro.
Destaca que uma das falhas do PSB foi a de não ter se rebelado contra ações das quais discordava quando participava do governo petista. O deputado Júlio Delgado (MG) lembrou que o PSB já vem se dissociando do PT, por exemplo, ao discordar do governo Nicolás Maduro, da Venezuela, ou sair do Foro de São Paulo, organização de partidos de esquerda no continente. Delgado afirma que outra demonstração desse afastamento será o encaminhamento favorável à aprovação de projeto que permitiria a prisão em segunda instância, o que poderia afetar diretamente Lula.
O prefeito do Recife, Geraldo Júlio, pode ser um exemplo disso. Dissonante, ele afirma que o importante hoje é confrontar o aumento da pobreza e da desigualdade social, que o debate deve se concentrar na vida dos brasileiros e que a oposição deve se unir para combater as perdas sociais. O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, é categórico: “Os governos de esquerda não foram capazes de taxar os lucros e dividendos dos banqueiros. Por outro lado, o atual governo já taxou os trabalhadores desempregados. Isso não é normal e é fruto das nossas falhas”.