Nonato Guedes
Prefeito de João Pessoa por dois mandatos consecutivos, o empresário Cícero de Lucena Filho – que recentemente conseguiu atestado na Justiça de absolvição de denúncias sobre supostas irregularidades administrativas elencadas na distante Operação Confraria -logrou um feito na história política paraibana: embora tivesse tradição política recente, ele destruiu o poderio do “braguismo”, a corrente de grande influência liderada alternadamente pelo ex-governador Wilson Leite Braga e pela sua mulher, a ex-deputada Lúcia Navarro Braga. Cícero derrotou Lúcia, que era sua principal adversária, na disputa pelo voto em 1996, num prélio de que participaram outros nomes como a ex-deputada Nadja Palitot. Em 2000, Lucena infligiu derrota ao Partido dos Trabalhadores, que lançou o então deputado Luiz Couto como principal adversário à reeleição do prefeito.
Com atuação marcante na construção civil, inclusive à frente de sindicato da categoria dos empresários, Cícero Lucena, natural de São José de Piranhas, atuava nos bastidores de campanhas eleitorais do PMDB, colaborando com seu parente ilustre, senador Humberto Lucena, que presidia o partido. Foi “pinçado” por Ronaldo Cunha Lima, de forma surpreendente, como seu candidato a vice na disputa ao governo, em 1990, que foi decidida em segundo turno no confronto com Wilson Braga. No governo do Estado, Cícero foi um dedicado parceiro de Ronaldo, com quem empreendeu batalhas vitoriosas, a exemplo da que resultou na reabertura do Paraiban. Lucena exerceu a titularidade do mandato por dez meses consecutivos, quando Ronaldo renunciou, a título de desincompatibilização, para disputar cadeira no Senado Federal.
Concluída a gestão, Cícero foi nomeado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso Secretário de Políticas Regionais, com status de ministro, e foi na sua gestão que se iniciaram estudos mais profundos sobre a ideia de transposição das águas do rio São Francisco. Lucena era vinculado ao ministério do Planejamento, titulado por José Serra, que, depois, foi “presidenciável” pelo PSDB, sem, todavia, lograr êxito. A experiência que passou a adquirir na vida pública criou as bases para o lançamento de Cícero à prefeitura da Capital, tendo deixado marcos pontuais como o fim do Lixão do Róger, que se constituía numa dor de cabeça para diferentes administradores. Lucena disputou a prefeitura na primeira vez, tendo como vice Reginaldo Tavares, do PFL, e foi para a reeleição tendo como vice Haroldo Lucena, do PMDB, irmão de Humberto. Ainda voltou a disputar a prefeitura de João Pessoa, indo para o segundo turno contra Luciano Cartaxo, que o derrotou. Abreviou a trajetória política uma vez concluído o mandato de senador, no qual chegou a ocupar a Primeira-Secretaria do Senado Federal.
Sua mulher, Lauremília, que desenvolveu trabalho de repercussão social junto a camadas carentes da população de João Pessoa, foi vice-governadora na primeira gestão de Cássio Cunha Lima, eleito em 2002 derrotando como principal adversário Roberto Paulino, do PMDB, que estava, então, no exercício do governo, devido à renúncia de José Maranhão para concorrer ao Senado. Cícero, há alguns meses, havia decretado sua retirada da cena política, descartando hipótese de concorrer a qualquer cargo eletivo. Invocava as frustrações, dissabores e dificuldades como motivos para não perseverar na vida pública. A confirmação de sua absolvição pela Justiça fez recrudescer o movimento de bastidores para que ele volte a concorrer à prefeitura de João Pessoa no próximo ano, dentro do PSDB. Não há, porém, certeza ou indício de que ele venha a encarar o desafio.