Nonato Guedes
A vitória na eleição para prefeito de João Pessoa nem sempre é questão de vida ou morte para governadores de plantão. Em 1992, por exemplo, dentro do PMDB, Ronaldo Cunha Lima lutou para que o partido apoiasse João Agripino Neto como retribuição pelo apoio decisivo que este deu ao poeta na disputa ao governo em 90, no segundo turno, contra Wilson Braga. João Neto, além do mais, tinha receptividade junto aos eleitores de classe média, era considerado preparado e no currículo constava a condição de filho do ex-governador João Agripino, que marcou a história da Paraíba. Na Assembleia Nacional Constituinte que produziu a Carta-Cidadã de 1988, João Neto, como deputado federal, alcançou nota expressiva e suas posições situaram-se no campo progressista e no campo nacionalista.
Mesmo com o peso do cargo de governador, Ronaldo não foi ouvido nem cheirado dentro do PMDB, onde um diretório praticamente acéfalo ficou nas mãos de jovens líderes imberbes, sem noção de estratégia ou sem conhecimento sobre os meandros do xadrez político na Capital, que sempre teve fama de hostil a governos e de receptiva às oposições. O partido acabou apostando fichas na candidatura do advogado e vereador Delosmar Mendonça Jr., oriundo de família tradicional mas sem cacife para decidir a parada. Ao pressentir o cenário, o governador abalou-se para Campina Grande, seu reduto de origem, onde Félix Araújo travava batalha encarniçada pela prefeitura. Ao final das eleições, o “guincho” – que era o prestígio do poeta – alavancou Félix, e em João Pessoa a prova dos noves ficou para o segundo turno entre Chico Franca, pelo PDT, e Chico Lopes, pelo PT, com a vitória do primeiro, que se beneficiou da impugnação da candidata Lúcia Braga, a quem substituiu na cabeça de chapa.
Cobrado, depois, pela imprensa, sobre o fiasco eleitoral do PMDB em João Pessoa, Ronaldo reagia dando de ombros, como a insinuar que o partido não quis o seu apoio no principal reduto do Estado, embora o poeta tenha demonstrado garra e liderança na campanha de 90, sobretudo no confronto com Wilson Braga, a quem acusava de tentar perpetuar uma gangorra no poder com o ex-governador Tarcísio Burity. Na comparação de Ronaldo, em seus pronunciamentos, “enquanto um sobe e o outro desce, a Paraíba padece”. Burity, em 90, estava concluindo melancolicamente o segundo governo, onde tudo deu errado e ele não chegou, nem mesmo, a jurar a Constituição, tendo perdido a maioria na Assembleia e se incompatibilizado com o senador Humberto Lucena e outros membros da bancada federal peemedebista, de tal sorte que rompeu com a legenda. E, para não apoiar nem Braga nem Ronaldo, Burity lançou João Agripino Neto e filiou-se ao PRN, o Partido da Reconstrução Nacional, invenção de Fernando Collor, que depois apunhalou Burity e a Paraíba decretando a liquidação extrajudicial que levou ao fechamento do Paraiban, instituição sagrada para os paraibanos, reaberta graças ao empenho da dupla Ronaldo Cunha Lima-Cícero Lucena.
Mas, voltando a Campina Grande: a disputa para prefeito em 1992 congregou seis candidatos, dos quais os mais fortes eram Félix Araújo Filho, que ganhou no primeiro turno e Enivaldo Ribeiro, registrando-se, ainda, nomes como o do atual deputado federal Damião Feliciano e do ex-deputado federal Álvaro Gaudêncio Neto. Ronaldo plantou-se em Campina 24 horas por dia, juntamente com “entourage” que percorria bairros e lugares estratégicos que concentravam votos a granel. Para não dizer que foi totalmente omisso em relação à Capital, gravou inserções no Guia Eleitoral recomendando a candidatura de Delosmar, mas era evidente a falta de entusiasmo do poeta com essa campanha, até como reação natural ao fato de ter sido desconsiderado. Entre os analistas políticos, a leitura que se fazia era a de que o partido estava sendo desleal com um filiado que só havia dado provas de lealdade à agremiação. Quando perceberam duramente essa triste realidade, Ronaldo e liderados abandonaram o PMDB e entraram de mala e cuia no PSDB.
Na campanha para prefeito de João Pessoa, em 88, o então governador Tarcísio Burity, sem muitas opções, apoiou a candidatura do deputado federal e empresário João da Mata, do PDC, que não foi muito longe até porque estava escrito nas estrelas que o preferido era Wilson Braga, de volta ao cenário e aos embates com Burity, o seu êmulo da gangorra a que Ronaldo se referia. Tudo isso vem a propósito das especulações sobre quem será o candidato do governador João Azevêdo a prefeito de João Pessoa ou se ele vai cruzar os braços diante da confusão que se arma com a movimentação trepidante do ex-governador Ricardo Coutinho, rompido com ele. Se resolver lavar as mão, João não estará inovando nem desconsiderando o eleitorado – estará agindo em função das circunstâncias, dentro da conceituação orteguiana sobre o homem. Mas como só em 2018 desencabulou para a política, é importante que João apoie um candidato qualquer na Capital para começar a criar raízes e firmar liderança junto a um agrupamento expressivo, que o torne protagonista para além do poder da caneta de governador. A conferir!