Por Jotabê Medeiros, escritor – revista “CartaCapital”
O cineasta e escritor mineiro João Batista de Andrade, diretor de “O Homem Que Virou Suco” (1991) e “O país dos tenentes” (1987), em uma carreira de 17 produções e mais de 50 anos de trabalho, foi homenageado neste domingo, 1, na décima quarta edição do Fest Aruanda do Audiovisual Brasileiro, em João Pessoa, exatamente na noite do dia em que completou 80 anos. Ao lado de amigos de meio século como o escritor Fernando Morais e o também cineasta Vladimir Carvalho, paraibano de Itabaiana, Andrade, que foi ministro da Cultura por um breve período no governo de Michel Temer, recebeu um troféu pela sua contribuição à cinematografia nacional. Ele teve sete filmes censurados pela ditadura (mesmo O Homem Que Virou Suco foi proibido de ser exibido na TV).
Iniciou sua carreira em 1967 com Liberdade de Imprensa, que passaria no famoso congresso da UNE em 1968 e antes da exibição teve as cópias apreendidas. Acabou ganhando o Festival de Cinema de Moscou. Em seu discurso, João Batista criticou o atual momento da política para o cinema no Brasil. Inicialmente, citou o cartunista Henfil. “O Henfil dizia: o governo maltrata muito a gente, mas também dá muito assunto. E esse governo agora dá ainda mais assunto. Não tem um dia que a gente não tenha algo para falar, para debater. O ruim é que, enquanto isso, eles estão ferrando a gente”, afirmou. Andrade citou como influências nos primórdios da carreira Jean-Claude Bernadet, Vladimir Herzog e Fernando Pirri e disse que completar 80 anos no Brasil é uma espécie de façanha.
Nascido em 1939, contou que começou sua carreira já se batendo contra uma ditadura, o Estado Novo, e lutando para reerguer aquilo que tinha sido soterrado pelo autoritarismo. “O resultado é que o Brasil era, nos anos 1950, 1960, uma potência cultural. Tivemos a bossa nova, o cinema novo. Tudo isso foi enterrado pelo golpe de 64. Ter 80 anos é ter atravessado tudo isso, acreditar e ser bombardeado, acreditar e ser bombardeado…É o que está acontecendo de novo, pela enésima vez. Mas sei que a gente vai saber ir disso”, afirmou, sob aplausos da plateia. Ao final, quando encerrou sua fala (“Todas essas coisas são importantes para um cineasta e essas coisas são derrubadas pelo desejo de destruir”), o diretor foi sucedido por um coro gigante de “Fora, Bolsonaro” da plateia. Alguns espectadores também diziam, bem-humoradamente, “saudade!” quando aparecia o logotipo da Ancine na tela. Nesta décima quarta edição o Fest Aruanda celebra o centenário do cinema paraibano, reconhecendo como marco pioneiro as primeiras atividades cinematográficas realizadas no Estado, em 1919, pelo cineasta Walfredo Rodriguez, que deu nome a troféu, conferido a personalidades como W. J. Solha e o escritor e produtor José Bezerra Filho.