Por Nonato Guedes
O governador João Azevêdo pôs um fim ao suplício em que se tornou a convivência dentro do metro quadrado do PSB com o ex-governador Ricardo Coutinho e oficializou o desligamento de uma legenda pela qual se elegeu, mas cujo expoente maior deu-lhe as costas, ressabiado por não ter logrado continuar mandando no governo do Estado. A missiva explicativa de Azevêdo à população paraibana põe a nu o calvário a que o grupo do ex-governador Coutinho tentou submetê-lo, recorrendo a manobras solertes de sabotagem ou de boicote a ações administrativas e lançando mão de uma orquestração para desconstruir sua imagem perante a opinião pública. Ao endurecer o pescoço diante dos expedientes para “ajoujá-lo”, Azevêdo foi rotulado como traidor e como um sem-voto, que, segundo disse Ricardo Coutinho na TV Master, não se elegeria sequer vereador sem o apoio do “Galo Chantecler” – o próprio RC.
A crise provocada dentro do PSB paraibano, com a omissão covarde da cúpula nacional presidida por Carlos Siqueira, de Pernambuco, foi ocasionada pela soberba do ex-governador Ricardo Coutinho, que não soube se portar fora do exercício do poder estadual nem respeitar a autoridade natural de João Azevêdo, derivada de um embate democrático nas urnas em que Coutinho teve sua parcela relevante de influência ou de contribuição. A ideia motriz concebida por Ricardo era a de que Azevêdo, por ter sido, até outubro de 2018, um jejuno na disputa de mandatos eletivos, ocupasse o governo que venceu em primeiro turno a título de empréstimo, subordinando-se a ordens e ditames produzidos pelo bom ou mau humor do ex-governador. As primeiras tensões afloraram com o desdobramento da Operação Calvário, em que auxiliares remanescentes da Era Ricardo foram arrolados em processos judiciais – em alguns casos havendo até prisões – sem que Azevêdo tivesse dado ciência prévia ao antecessor sobre o que estava se processando nessas esferas. Para Ricardo, parecia que o governador que o sucedeu é dono do Gaecco ou tem ingerência exponencial no Ministério Público. Ainda que tivesse algum tipo de influência, não caberia ao chefe do Executivo interferir nas decisões desses órgãos, tomadas com base em investigações, depoimentos e até colaborações premiadas, seguindo o mesmo enredo que pontuou o perfil da Operação Lava-Jato, de repercussão internacional.
Azevêdo tentou contornar os impasses e as intrigas com diplomacia, mas o ex-governador Ricardo Coutinho, agindo como um “celerado”, à base de uma rede de fuxicos e boatos de toda espécie, não fez qualquer concessão, por mínima que fosse, a um diálogo, a um esclarecimento, que seria alcançado mediante o “vis a vis” com João Azevêdo. Não faltaram bombeiros dentro do PSB para a reaproximação entre os dois aliados da campanha de 2018 – do presidente da Assembleia, Adriano Galdino, ao senador Veneziano Vital do Rêgo, que, inclusive, foi atraído para o PSB pelo guia supremo e iluminado do PSB, por gestões do próprio Ricardo. O que não havia era espaço para entendimento, muito menos para qualquer tipo de convivência. O gesto de Ricardo, junto à cúpula nacional, conseguindo dissolver o diretório regional que era presidido por Edvaldo Rosas, foi um recado claro de que o “ex” queria briga, não diálogo.
Foi Ricardo Coutinho que criou as pré-condições para o desligamento de Azevêdo nas fileiras socialistas paraibanas. O ex-governador nunca quis sombra, muito menos adversário potencial, ainda que o adversário fosse apenas um êmulo cordial, não um inimigo a ferro e fogo como os que Ricardo tratou de arranjar depois de ter se unido a eles para satisfazer seus objetivos (casos dos ex-governadores Cássio Cunha Lima e José Maranhão). O personalismo de Ricardo, marca registrada do seu temperamento – intimidou a própria cúpula nacional do PSB que sempre apostou nele como o grande líder, o guia supremo e iluminado das hostes políticas na Paraíba, a quem todas as reverências devem estar sendo tributadas sempre e todas as zumbaias convirjam para a sua majestática figura. Coutinho era dono absoluto do PSB, senhor de baraço e cutelo da legenda e de alguns integrantes do agrupamento girassol, mas, para ele, isto não bastava. Queria Azevêdo ajoelhado aos seus pés. Eis que a criatura voltou-se contra o Criador, que espumou fumaça de ira pelas ventas e pelos poros, acenando com a maldição do Olimpo.
João Azevêdo optou pela paz para poder governar. Fez muito bem. Demonstrou brio. E ganhou alívio diante da turbulência de permanente sangria desatada invocada por Ricardo e seus orixás. Respira mais sereno, sem sombra de dúvidas;