Nonato Guedes
Eleito prefeito de João Pessoa em 1988, Wilson Braga – que concorreu pelo PFL – anunciou numa entrevista à extinta revista “A Carta” a criação de um “Conselho de Notáveis”, integrado por pessoas de alto nível que aconselhariam o prefeito, sem remuneração, em problemas de caráter polêmico. Seria, como ele deixou claro, uma das propostas com que pretendia inovar a administração na Capital paraibana, mas a ideia não foi levada adiante, inclusive porque Wilson não “esquentou” cadeira na prefeitura, tendo renunciado para concorrer ao governo do Estado em 90, deixando na titularidade o vice Carlos Mangueira. Brigado com o então governador Tarcísio Burity, não titubeou em dizer que só pediria audiência a ele em caso de calamidade pública na Capital, que exigisse a interveniência do governo estadual.
Wilson entrou no páreo em outubro, substituindo a mulher, deputada Lúcia Braga, que alegou problemas de ordem pessoal, o principal deles o internamento da filha Patrícia, no hospital Alberto Einstein, em São Paulo, para se recuperar de um grave acidente automobilístico ocorrido em Alfenas, Minas Gerais. Derrotou candidatos como Haroldo Lucena, do PMDB, João da Mata, do PDC, Hermano Almeida, do PTB, Carlos Alberto, do PT, Antônio Augusto Arroxelas, do PDT e Jâemio Carneiro, do PV. A eleição significou a reabilitação rápida do “animal político”, como Wilson sempre foi chamado – em 1986 ele perdeu uma vaga ao Senado para o empresário Raimundo Lira, do PMDB. Enquanto perdurou como candidata, Lúcia liderava pesquisas de intenção de voto. Essa vantagem foi mantida e ampliada por Wilson Braga. O então governador Tarcísio Burity, rompido com Braga, desembarcou da candidatura de Haroldo Lucena e passou a adotar o nome de João da Mata, que experimentou sinais de crescimento para, depois, despencar de forma vertiginosa.
No primeiro dia das apurações, já liderando a contagem de votos nas urnas de João Pessoa, Braga deu declarações prometendo fazer um governo simples, sem obras suntuosas, que seria um misto dos modelos administrativos de Jânio Quadros, em São Paulo, Jarbas Vasconcellos, no Recife, e Wall Ferraz, em Teresina – o prefeito com maior índice de aprovação do país. Nas primeiras declarações, Braga disse que somente pediria audiência a Burity em caso de calamidade pública e exortava o governador a respeitar a autonomia do município. Nos prognósticos sobre outras metas, Braga resumia: “A cidade está tão estragada que requer uma administração de reposição”. Ele sucedeu, no cargo, a Carneiro Arnaud, do PMDB, primeiro prefeito eleito na Capital paraibana após a volta das diretas nesses colégios eleitorais.
Embriagado pela revanche afinal conseguida contra Burity, ele assim respondeu quando indagado sobre se pediria a audiência ao governador: “Não gostaria de fazer isto, a não ser em caso de calamidade pública. Prefiro manter uma posição de independência em relação ao governo do Estado, mas sem confronto. Como Burity não aceita o sucesso dos outros, vai ter, agora, que trabalhar. Eu vou ter a grandeza que ele não soube ter na vitória (em 86) e espero que ele tenha a mesma humildade que eu tive na derrota”. Alfinetava mais: “Espero que o governador deixe o prefeito trabalhar dentro da sua autonomia e não procure bloquear recursos a que o município tem direito. A administração do Estado não deve prejudicar a administração municipal”. Baseava-se, como disse, na sua experiência como governador eleito em 1982, que não discriminou prefeitos adversários, nas suas palavras.
Wilson patrocinou como governador, em 85, o chamado acordão entre PMDB-PDS-PFL em torno da candidatura de Carneiro Arnaud a prefeito de João Pessoa, tendo como vice o então vereador João Cabral Batista. A chapa, que teve o reforço de três máquinas (federal, estadual e municipal) derrotou nas urnas a chapa Marcos Odilon Ribeiro Coutinho-Gilvan Navarro, que era apoiada pelo ex-governador Tarcísio Burity, que voltaria ao poder em 86. Eleito em 88, Braga anunciou que não pretendia fazer revanchismo contra Carneiro nem contra ninguém. “Seria uma incoerência diante da mensagem que preguei contra o ódio, na campanha. Vou me esquecer do governo anterior para ver se consigo administrar”. Por fim, perguntado se cumpriria o mandato até o fim foi sincero: “Só Deus sabe…”. Como se sabe, não cumpriu.