Nonato Guedes
Nas eleições municipais de 2000 a grande estrela acabou sendo a urna eletrônica, de tal sorte que em diferentes momentos da campanha falou-se muito mais dela do que dos próprios fatos políticos da disputa, como notou o jornalista Ademilson José no livro “A Eleição da Máquina – Os primeiros prefeitos paraibanos do novo milênio”, cuja impressão teve o apoio da Famup, Federação das Associações dos Municípios. Foi a primeira vez em que a Justiça Eleitoral pôde obter uma cobertura de 100% no Estado com o voto eletrônico. A inovação, de fato, agilizou o processo, da votação à apuração. 6.636 urnas foram instaladas em 1.811 seções, entre as quais 2.92 remanescentes dos dois últimos pleitos – 1966 e 1998, em João Pessoa e em algumas das principais cidades, como Campina Grande, Patos, Santa Rita e Bayeux.
O Tribunal Regional Eleitoral, como informa Ademilson, disponibilizou 40 mil pessoas para trabalhar nas eleições, incluindo 35 mil mesários, 300 técnicos e 608 pessoas com atuação nas Juntas Apuradoras. Outros 700 funcionários da Empresa dos Correios e Telégrafos estiveram à disposição da Justiça Eleitoral, procedendo a entrega das urnas e posterior recolhimento em cada seção eleitoral. Durante dois meses as autoridades promoveram uma campanha de conscientização do eleitor na mídia, orientando-o a adaptar-se à mudança do voto com a substituição da urna de pano pela urna eletrônica. Com o encerramento da votação às 17h, por volta da meia noite do dia da eleição, até mesmo na Capital, a população já estava diante dos resultados finais e oficiais.
Não obstante, eclodiu uma controvérsia paralela: até que ponto a urna eletrônica seria capaz de combater a fraude? O maior foco de problema ocorreu na cidade de Bayeux, na região metropolitana de João Pessoa, onde emissários do PDS pediram na Justiça a anulação do pleito, alegando que alguns eleitores teriam acionado o botão de votação sem que tivesse aparecido na tela o nome da candidata em que pretendiam votar, a empresária Sara Cabral, do PTB, mulher do então deputado Domiciano Cabral (PMDB). Numa primeira decisão, o juiz José Geraldo Pontes decretou a extinção do processo sem julgamento de mérito e mantendo o resultado geral das eleições. Inconformado, Domiciano Cabral chegou a dizer que “não é normal morto votar”, o que teria ocorrido no pleito. Reeleito para a prefeitura, Expedito Pereira, do PMDB, rebatia que os 141 votos de diferença já eram esperados e, portanto, retratavam a realidade, não havendo qualquer irregularidade por parte da Justiça Eleitoral. A secretária de Informática do TRE. Ivany Mesquita, defendia a lisura da urna eletrônica e culpava os políticos por não orientarem o eleitor sobre o novo processo. Lembrava que dos mais de cinco mil municípios brasileiros, Bayeux era o único com reclamações e denúncias sobre erros e fraudes no processo. As eleições de 2000 consagraram as reeleições de Cícero Lucena a prefeito de João Pessoa e de Cássio Cunha Lima a prefeito de João Pessoa, ambos já em processo de filiação ao PSDB por divergências com o PMDB que passara ao controle do governador José Maranhão.