Nonato Guedes
Calcula-se que cerca de 5 600 cidades do Brasil passarão por eleições municipais para prefeituras e câmaras de vereadores no próximo ano. Nesse universo, como informa reportagem da revista “Veja”, as prefeituras mais cobiçadas, ou seja, as joias da Coroa, são as de São Paulo e a do Rio de Janeiro, a primeira ocupada por Bruno Covas, que no fim de outubro foi diagnosticado com câncer, e a segunda administrada por Marcelo Crivella, que tem protagonizado atitudes polêmicas ou gestos de omissão perante os graves desafios que afetam a Cidade Maravilhosa.
Em tese, o jogo já começou -e “Veja” dá uma pista para a precipitação: a soltura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que percorre o país costurando lançamento de candidaturas próprias ou alianças com partidos de esquerda. No reverso da medalha, o presidente Jair Bolsonaro, grande alvo de Lula e dos petistas, bem como de outras forças de oposição, tentou embaralhar as coisas nestes últimos meses largando o antigo partido pelo qual foi eleito, o PSL, e dedicando-se a uma dificílima empreitada para formar nova legenda, uma tal de Aliança pelo Brasil, que ninguém sabe se estará apta a concorrer nas eleições municipais, diante de exigências legais feitas em torno da legalização de agremiações partidárias.
Bolsonaro, segundo queixas dos próprios aliados, desfez candidaturas praticamente certas ou quase sólidas e abriu oportunidades para outros nomes, com isto levando incerteza ao seu esquema político. Já teria avisado o capitão-presidente que, se não conseguir legalizar o novo partido em tempo hábil, ficará longe das campanhas. Conforme “Veja”, é um raciocínio difícil de ser acreditado tendo em vista que as batalhas do próximo ano deverão ter impacto relevante na guerra presidencial de 2002. O PT ainda está às voltas com os estragos produzidos por escândalos de corrupção, impeachment de Dilma Rousseff e prisão do “pajé” Lula da Silva. Tanto é uma situação de vaca desconhecer bezerro que o “pajé” cogita com seriedade o lançamento do nome da ex-prefeita Marta Suplicy, que votou pelo impeachment de Dilma em 2016 depois de se desfiliar da legenda em 2015 sob o argumento de que não podia conviver com a corrupção. Após passar pelo PMDB, Marta está sem partido. Lula opinou, no Twitter, que ela foi a melhor prefeita que São Paulo teve e que se quiser voltar, da mesma forma que saiu, ela pede para entrar.
Não sendo Marta nem Fernando Haddad, o PT pode ir de Alexandre Padilha, ex-ministro da Saúde e de Relações Institucionais de governos petistas. O PSDB não anda lá bem das pernas, igualmente, em São Paulo. O governador João Doria defendeu a filiação ao partido da deputada federal Joice Hasselmann, que foi líder do governo Bolsonaro e ensaia deixar o PSL. Doria quer que Joice seja vice de Bruno Covas, que, por sua vez, ostentava baixas taxas de aprovação em pesquisas. Interlocutores ligados a Hasselmann asseguram que a chance dela sair vice de Covas é zero, o que soa como um prognóstico realista. No Rio, o prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) caminha desgastado para o fim do mandato e o seu antecessor Eduardo Paes, do DEM, lidera as pesquisas. Na falta de nome promissor do PT, Lula da Silva já sinalizou que poderá vir a apoiar o deputado Marcelo Freixo, do PSOL. O governador Wilson Witzel (PSC), por sua vez, confidenciou a aliados que sua candidata é a juíza Glória Heloíza Lima da Silva, novata na política.
Antes que quebrem as caras, líderes e cúpulas partidárias terão que responder objetivamente a uma pergunta: até que ponto as eleições municipais de prefeitos e vereadores serão nacionalizadas em 2020? A praxe tem sido o caráter acentuadamente local dessas disputas, com discussão de problemas setoriais e gerais, que no caso de centros importantes como São Paulo e Rio de Janeiro adquirem dimensão ou amplitude maior. Nada impede que temas nacionais venham à baila nos palanques e nos Guias Eleitorais das campanhas municipais, mas o que se quer dizer é que não salta à vista a perspectiva de que o pleito municipal do próximo ano se torne uma espécie de plebiscito do governo do presidente Bolsonaro ou da liderança do ex-presidente Lula. O foco maior será, certamente, nas atuais administrações estaduais e nos governos estaduais que dão respaldo a essas administrações.
O grande confronto Lula X Bolsonaro, que muitos esperam, não é para tão cedo, como se pensa!