Nonato Guedes
Disse a deputada Cida Ramos que a cúpula do PSB tem projetos para o ex-governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, no plano nacional, sem especificar quais são esses planos e de que forma ele pode atuar. Ricardo, que ontem conseguiu o seu intento na Paraíba, o de defenestrar o governador João Azevêdo, do partido, tornando-se senhor absoluto e inconteste do jardim dos girassóis locais, era uma ficha em que o PSB presidido por Carlos Siqueira vinha apostando para “amaciar” resistências do PT a um protagonismo socialista no cenário nacional, já a partir das eleições para prefeito em Capitais importantes no próximo ano. Eis que o próprio Ricardo deu-se conta de que o PT, com a soltura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ganhou incentivo para retomar o protagonismo, tornando-se alternativa da oposição ao governo do presidente Jair Bolsonaro. Raiou fato novo no horizonte.
Aquele desabafo agressivo de Ricardo no congresso nacional do PSB sobre autorreforma, acusando o ex-presidente Lula de agir como um chefe de partido, não como um líder (ou estadista) com estatura para aglutinar setores afinados com a democracia, dentro e fora do Brasil, calou fundo em ouvidos petistas, reverberando na Paraíba, onde até então Ricardo vinha fazendo a corte a Lula e a Dilma Rousseff. Os socialistas, incluído Coutinho, perceberam que o PT tomou gás para despontar em posição de destaque, aproveitando as eleições municipais de 2020 como trampolim para o ressurgimento em alto estilo em 2022, de preferência com uma candidatura do “pajé” Lula, mas, se não for possível, diante da pletora de processos a que ele ainda responde, com outro nome indicado por Lula, desta feita com densidade real para vencer as eleições presidenciais e desalojar o capitão reformado do Palácio do Planalto.
Quando o PT está imbuído de um projeto próprio, autonomista, de poder, não há força sobre-humana que o demova desse desideratum. Em 2010, com Lula já concluindo o segundo mandato, impossibilitado, portanto, de ir para um terceiro consecutivo (que ele tentou), o PT guiou-se pela intuição do “pajé” e depositou fichas em Dilma, mesmo que a esmagadora maioria da cúpula e da militância conhecesse os dotes da Sra. Rousseff para ser guindada ao posto de candidata. Dilma não era uma petista quimicamente pura – pelo contrário, no passado fora discípula de Leonel Brizola e militante porra louca de organizações clandestinas de esquerda que flertavam com a luta armada. Brizola colheu-a entre seus achados nas buscas arqueológicas que empreendia para dar musculatura ao PDT, formado às pressas depois que Ivete Vargas surrupiou-lhe, na Justiça, o direito a controlar o PTB, que lembrava o heroísmo trabalhista. Dilma pulou das mãos de Brizola para a de Lula num átimo de tempo. Na concepção do “pajé” petista, viraria a “Evita Perón” dos trópicos, tanto que foi imantada com a denominação de “Mãe do PAC”.
Acabou sendo conhecida mesmo como a “Mulher do Lula” e foi com esse emblema e com a discurseira demagógica adrede formulada pelo “pajé” que ascendeu ao Planalto, onde fez gestão desastrada. Ainda assim, acertou novamente na Loteria e ganhou o prêmio de ser candidata à reeleição em 2014, quando alguns petistas coroados começavam a frequentar portas de cadeias, envolvidos em escândalos de corar inocentes e que constituíram, na versão de um ministro do Supremo Tribunal Federal, “pontos fora da curva”, ou seja, da normalidade democrática brasileira. Veio o impeachment de Dilma e, logo mais, a prisão do “pajé” Luiz Inácio, durante cerca de um ano, em Curitiba. O PT foi aos prantos, ficou vulnerável, aceitou “mãos amigas” cuja identidade não distinguia direito, mas entre as quais repontavam algumas enfeixadas dentro do PSB. Como a de Ricardo Coutinho, que saiu do PT para não ser expulso porque queria ser candidato a prefeito de João Pessoa em 2004. História é o que não falta para esse pessoal que anda ocioso de missões políticas mais relevantes e bate pernas traçando teorias com a arrogância de quem recebe emanações populares divinas, ou divinatórias.
Lá atrás o PT havia torcido o nariz para a candidatura do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, expressão maior do PSB e símbolo de uma indefinida renovação que estaria a caminho na conjuntura institucional brasileira. A vez era do “pajé” Lula, seria sempre dele, por ter conquistado, por merecimento, lugar cativo na galeria dos condestáveis com direito a disputar a presidência da República. Hoje, o PSB tenta correr atrás do prejuízo e se credenciar na cena nacional, mas, que diabos, além do Bolsonaro, que é elemento novíssimo na velha política, volta o velho Lula com seu diapasão rouco e conhecido, senão para assumir o figurino de candidato, pelo menos para indicar candidatos do PT, deixando “aliados” como o PSB a ver navios. Ricardo tem um problema a mais com a saída de Azevêdo: remontar o PSB sem a caneta do poder. Mas, no plano nacional, o problema de Coutinho é outro. É ajudar a tornar o PSB polo eleitoral alternativo. Que pena que o PT esteja nos calcanhares petistas…