Nonato Guedes
Estive em diferentes eventos que registraram a participação de políticos nos últimos dias – o último deles foi a concorridíssima feijoada do colunista e acadêmico Abelardo Jurema, ontem. E o assunto dominante, nas conversas informais, girou em torno da opção partidária a ser feita pelo governador João Azevêdo depois que se desfiliou dos quadros do PSB em meio a divergências graves com o ex-governador Ricardo Coutinho, que se converteu em dono e líder absoluto da agremiação socialista no Estado, com poderes de indicação e veto de candidaturas nas eleições municipais do próximo ano. Apesar de todas as especulações ou conjecturas, não escapou nas rodas de conversas alguma pista concreta sinalizando que direção Azevêdo vai tomar e qual legenda vai abraçar.
Sabe-se que há um grupo expressivo de lideranças políticas dispostas a acompanhá-lo nessa empreitada, desde deputados, sobretudo, estaduais, mas também com o reforço de federais aliados, que já estão em outros partidos, passando pelo senador Veneziano Vital do Rêgo e por um grande número de prefeitos, vice-prefeitos e vereadores que estarão envolvidos no próximo ano com mais uma disputa municipal, que em algumas localidades tomará ares de acirramento profundo, devido a divergências ou antagonismos entre esquemas rivais históricos, a exemplo da cidade de Guarabira, onde os Paulino e os Toscano irão se defrontar mais uma vez. O apoio de João Azevêdo é tido como fundamental, bem como o seu engajamento na campanha, pelo fato de manter sob controle a máquina administrativa do Estado e ter projetado ações e realizações em municípios neste primeiro ano de gestão que está se concluindo.
Como já previu o ex-senador Marcondes Gadelha, presidente estadual do PSC, em colégios eleitorais importantes, como João Pessoa, a perspectiva é de pulverização de candidaturas, registrando-se variedade de candidaturas próprias em legendas distintas, com portas abertas para uma possível coligação em segundo turno, dependendo da confluência de interesses ou da afinidade de ideias e propostas. Marcondes, por exemplo, admitiu que o PSC pode vir a lançar a candidatura do seu filho Leonardo, ex-presidente nacional do INSS e ex-deputado federal, a prefeito de João Pessoa. No DEM o nome mais forte em cogitação, na Capital, é o do deputado federal Efraim Filho. O PTB examina lançar a candidatura do deputado estadual Wilson Filho. No grupo do prefeito Luciano Cartaxo (PV) há uma expectativa sobre a batida do martelo ainda no final deste ano.
Além da expectativa em torno do rumo partidário que o governador João Azevêdo irá tomar, há uma expectativa centrada no posicionamento que o ex-governador Ricardo Coutinho pretende adotar com relação à eleição para prefeito de João Pessoa. Ele foi eleito duas vezes, em 2004 e 2008. Não concluiu o segundo mandato porque teve que se desincompatibilizar, passando o cargo ao vice Luciano Agra, para concorrer ao governo do Estado em 2010, saindo vitorioso com o apoio do então senador Cássio Cunha Lima. Dentro do PSB, há uma preferência natural pela candidatura de Ricardo Coutinho, diante do prestígio que ele pode transferir a outras postulações no âmbito do esquema político que está procurando expandir depois do rompimento com Azevêdo e com aliados deste.
Mas há quem sugira que Ricardo Coutinho se preserve na disputa municipal do próximo ano, como candidato, para se credenciar à disputa novamente ao governo do Estado em 2022, desta feita enfrentando João Azevêdo, que ele apoiou em 2018 e que será candidato natural à reeleição. Interlocutores bem próximos de Ricardo salientam, “em off”, que o exercício da prefeitura da Capital já não mais lhe apetece, até pela circunstância de ter concorrido duas vezes. Os pré-adversários garantem que não temem enfrentar Ricardo e chegam mesmo a diagnosticar que seu ciclo está encerrado, mas, no íntimo, reconhecem a influência e o cacife que ele ainda detém junto a parcelas expressivas da opinião pública paraibana. Ricardo tem um histórico de alianças e de enfrentamento com líderes como José Maranhão, Cássio Cunha Lima e Luciano Cartaxo.
Não sendo Coutinho o ungido do PSB para a prefeitura da Capital, o “ricardismo” apostará fichas na candidatura do deputado federal Gervásio Maia Filho, ex-presidente da Assembleia Legislativa do Estado, que em 2018 pretendia ser candidato a governador ao invés de João Azevêdo mas foi garfado pelo próprio Coutinho. Há mais postulantes à sucessão de Luciano Cartaxo, como as já testadas deputadas Estelizabel Bezerra e Cida Ramos, que Cartaxo derrotou, parecendo que a bola da vez, não sendo Ricardo, será mesmo Gervásio. As atenções políticas no começo do novo ano girarão em torno desses dois fatos – a definição partidária de Azevêdo e a definição de Ricardo sobre a candidatura do PSB a prefeito de João Pessoa.