Ao comentar o cenário político paraibano, com a movimentação de lideranças emergentes e caciques tradicionais influentes, o cientista político e professor doutor da Universidade Federal da Paraíba Lúcio Flávio constatou que, mesmo quase entrando na terceira década do século XXI, a Paraíba continua mergulhada na “cultura política oligárquica”. Ele se refere diretamente aos grupos familiares que, a seu ver, manejam os cordéis, monopolizam as estruturas e prevalecem muito mais do que as legendas partidárias. “É o predomínio do fenômeno denominado neocoronelismo”, salientou o professor.
Lúcio Flávio enfatizou, em declarações ao “Correio da Paraíba”, que o MDB depende, por exemplo, das coordenadas do senador José Maranhão, que exerce hegemonia desde que esteve à frente do governo do Estado, enquanto o PSDB está subordinado ao ex-senador Cássio Cunha Lima, o DEM mantém-se vinculado ao controle do ex-senador Efraim Morais. “O próprio Partido Socialista Brasileiro não foge à regra e é controlado com mão de ferro pelo ex-governador Ricardo Coutinho”, acentuou o cientista político. O predomínio de Ricardo dentro do PSB bem como o seu cacife junto à cúpula nacional foram responsáveis pela decisão do governador João Azevêdo de se desfiliar da agremiação, o mesmo devendo acontecer com parlamentares e lideranças políticas municipais.
Nas eleições de 2018, Ricardo apoiou decisivamente a candidatura de João Azevêdo, mas desde o início do governo, este ano, vinha demonstrando sinais de estremecimento nas relações e de divergências pontuais com o sucessor. Os desentendimentos culminaram com o racha nas hostes socialistas, a partir da decisão da Executiva nacional do PSB, presidida por Carlos Siqueira (PE) de dissolver o antigo diretório regional, presidido por Edivaldo Rosas, secretário de Governo de João Azevêdo. Formou-se, então, uma comisso estadual provisória presidida pelo próprio ex-governador Ricardo Coutinho. Sem partido, o governador João Azevêdo avalia quase duas dezenas de convites para ingressar em legendas.
O professor Lúcio Flávio chama a atenção para um aspecto que julga relevante: “A prática neocoronelista reforça o personalismo na política e atrasa sensivelmente o desenvolvimento democrático. Calcula-se que cerca de 80% do eleitorado votem em pessoas, independentemente dos partidos a que elas estejam vinculadas”, acrescentou o professor universitário, pontuando que a sobrevivência do neocoronelismo no Estado se deve a três fatores essenciais que considera interligados entre si: o atraso econômico, a dependência da máquina pública para gerar empregos e a dependência dos pequenos e médios empresários das obras públicas e fornecimento de bens e serviços.