Nonato Guedes
Ainda que tenha avançado por uma fase meio sabática, o ex-senador e ex-governador Cássio Cunha Lima (PSDB) é um quadro político de excepcional valor que representa a oposição ao esquema do ex-governador Ricardo Coutinho (PSB) e ao próprio governo comandado por João Azevêdo (sem partido) e mantém-se líder de um agrupamento que tem cacife para influir decisivamente nas eleições municipais do próximo ano. Logo, depreende-se que é voz a ser consultada, interlocutor a ser ouvido, conselheiro a ser respeitado e adversário a ser temido, sim, pelo potencial que agrega, ou aglutina. A derrota à reeleição nas eleições de 2018, que ele atribuiu a “tsunami” político de que derivou a própria ascensão de Jair Bolsonaro, então tido como um outsider, à presidência da República, foi um acidente de percurso na trajetória de Cássio, combinado com o rolo compressor que o ex-governador Ricardo se obstinou em montar para influir de modo a derrotar Cunha Lima, o ex-aliado de 2010, de qualquer jeito, talvez para ficarem empatados, já que ele (RC) não se abalou a disputar uma vaga ao Senado que os aliados mais fanáticos tinham como “favas contadas”.
Não é o caso de especular sobre provável candidatura de Cássio a prefeito de Campina Grande, pelo esquema que ora apoia o atual prefeito Romero Rodrigues, do PSD. Tendo sido honrado com a escolha para esse posto por três vezes, em momentos difíceis ou acirrados da política campinense, o filho do poeta Ronaldo Cunha Lima parece tomado de avaliação isenta e serena que o leva a abrir espaço para os que não tiveram a oportunidade de comandar a administração da segunda cidade em importância do Estado. Mas ainda que não reclame posição de protagonismo é inevitável que isto aconteça, a partir do momento em que subir em palanques, em Campina Grande e na Paraíba como um todo. Basta lembrar que na visita do presidente Jair Bolsonaro a Campina para entregar um conjunto habitacional, Cássio, que emergiu de algum ponto não sabido, foi ovacionado de tal sorte que ofuscou o brilho da presença do próprio mandatário, em ato de deferência para com o povo da Rainha da Borborema.
Os exemplos se sucedem. Recentemente, no Senado Federal, o presidente Davi Alcolumbre surpreendeu a todos aclamando o ex-senador paraibano na sessão de promulgação da lei de criação das Polícias Penais, derivada de uma Proposta de Emenda Constitucional de Cássio Cunha Lima, que avançou no ritual do Parlamento e constituiu-se em conquista aplaudida não apenas pelo segmento específico beneficiado, mas por outros segmentos sociais que reconheceram a justeza do pleito e seus reflexos sociais positivos. Essa PEC de Cássio sintetizou o conjunto da obra que ele empreendeu durante oito anos no Senado Federal, antenado com as aspirações da sociedade, empenhado na dinâmica legislativa para que as reformas que este ano se aceleraram tivessem um estágio probatório promissor. E assim foi feito quanto a um sem número de demandas.
Além da conjuntura atípica, excepcional, o revés enfrentado por Cássio na campanha do ano passado e que, em certa medida, o desapontou profundamente, deu-se no contexto do lançamento de candidaturas efetivamente competitivas, como as de Veneziano Vital do Rêgo e da primeira mulher paraibana que ascendeu ao Senado, representando as predecessoras que não lograram êxito em outras competições, Daniella Ribeiro, que tem seus méritos indiscutíveis, da mesma forma como Veneziano tem um histórico de serviços prestados ao Estado. Note-se, contudo, que diferentemente de 2009, quando teve cassado o restante do segundo mandato de governador, naquilo que considerou o maior erro judiciário do País, logrando reabilitação triunfal em 2010 comum milhão de votos para senador, Cássio não submergiu no exterior. Está plantado em território nacional, entre São Paulo e Brasília, ao alcance de um telefonema da Paraíba que possa lembrá-lo do prestígio que construiu e da atuação profícua que desempenhou.
No campo institucional das oposições na Paraíba, Cássio é a grande referência justamente por não ter conseguido renovar o mandato em 2018. Foi quem colheu as melhores lições, o melhor aprendizado sobre o significado da dinâmica política, da gangorra do perde e ganha, dependendo das oscilações de humor do eleitorado, que é dono absoluto da vontade que elege ou derrota. Já havia tido outros aprendizados, em fases distintas do processo estadual e nacional, vivenciando, também, experiências pelas quais passou o pai, o poeta Ronaldo, e por que está passando o filho, deputado federal reeleito Pedro Cunha Lima. Com tamanha e tão valiosa bagagem, é uma temeridade para qualquer agrupamento político dar-se ao luxo de ignorar Cássio Cunha Lima no processo decisório paraibano.