Nonato Guedes
2019 começou turbulento e com aparentes maus presságios para o novo governador João Azevêdo, eleito em primeiro turno na disputa de 2018. Pipocaram problemas herdados da administração do antecessor e apoiador na campanha, Ricardo Coutinho, envolvendo irregularidades atribuídas a secretários ligados ao “ex” e colocando em xeque a gestão pactuada, com organizações sociais, de setores essenciais como a Saúde e a Educação. Era o embrião da Operação Calvário, uma bem-sucedida empreitada conduzida pelo Gaecco e Ministério Público, que desbaratou as conexões do que, mais tarde veio a se saber, constituía uma organização criminosa especializada em dilapidar o erário público, mediante o desvio de recursos que poderiam servir para construir mais escolas, mais hospitais, mais creches.
Perante a imprensa e segmentos da opinião pública, a impressão dominante era a de que Azevêdo tornara-se uma marionete nas mãos do ex-governador Ricardo Coutinho, que, nos bastidores, tentava manejar os cordéis, indicando nomes da sua confiança para o novo governo, como se tivesse emprestado o poder a João, ignorando que este o conquistou a céu aberto, em primeiro turno, com o apoio de Ricardo e de tantos outros que diziam defender um “projeto que deu certo”. A descoberta de graves irregularidades evidenciou que o tal projeto deu certo vírgula porque, em paralelo com eventuais benefícios carreados, acomodava nódoas embutidas em denúncias de pagamento de propinas para agentes do serviço público.
Os depoimentos coletados no âmbito da Operação Calvário alcançaram secretários de proa da gestão anterior, como a titular da Administração, Livânia Farias, que em colaboração à Justiça e Polícia, repassou indicativos preciosos que ajudaram a montar o quebra-cabeças da “Ocrim”, a organização criminosa com múltiplos tentáculos que havia encontrado terreno fértil em pleno governo socialista, numa contradição com os princípios defendidos pelos partidos que juram defender esse ideário. Ricardo tentou inverter o enredo, cobrando o ônus da prova ao Gaecco e ao Ministério Público e elaborando uma narrativa que tentava mostrar o esquema como vítima da sanha punitiva apressada de membros do Ministério Público, numa mal esclarecida vindita contra a administração de Coutinho que durou oito anos.
A dinâmica dos fatos foi encurralando e desmoralizando a narrativa do ex-governador Ricardo Coutinho fixada no conceito da vitimologia, apropriado da narrativa do PT ao tentar dizer qualquer coisa sobre as prisões do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de cabeças coroadas fisgadas pela Operação Lava-Jato. Enquanto Coutinho se abespinhava, mirando sua metralhadora contra o próprio João Azevêdo, de quem desejava ter informações privilegiadas sobre operações policiais e judiciais, de cujo roteiro o chefe do Executivo às vezes ainda não tinha conhecimento pleno, o Estado ameaçava tornar-se dolorosamente ingovernável, porque a escalada pessimista contaminou deputados da base aliada e ofuscou, mesmo, os êxitos eleitorais pontuais alcançados pelo PSB nas eleições do ano passado. Não fossem o equilíbrio e a serenidade do governador João Azevêdo, a vaca teria ido para o brejo e a governabilidade estaria terrivelmente comprometida. Houve, nesse particular, o espírito público do presidente da Assembleia Legislativa, deputado Adriano Galdino, que soube separar as coisas para manter o ritmo de votação e aprovação de matérias consideradas indispensáveis para dar o tom da administração instalada oficialmente a primeiro de janeiro.
O “imbróglio” evoluiu, depois, para o “racha nas fileiras do Partido Socialista Brasileiro, o PSB, mediante operação intervencionista, manu militari, decretada pela Executiva Nacional por solicitação do ex-governador Ricardo Coutinho, que resultou na destituição do antigo diretório regional do partido e no consequente afastamento do presidente Edivaldo Rosas. Ricardo tentou se contrapor à caneta do governador João Azevêdo, pródiga e poderosa, movendo céus e terras para conseguir expulsá-lo das fileiras da agremiação que lhe foi oferecida como suporte para alicerçar a candidatura em 2018. Azevêdo já não convinha mais às ambições políticas de Ricardo, que por sua vez insistiu no diapasão de considerar-se uma espécie de reinventor do Estado, ignorando a importância das forças sociais que têm modelado a Paraíba em décadas consecutivas.
Tentem, fotógrafos, a partir de primeiro de janeiro, fazer uma “selfie” da constelação do governo João Azevêdo. Será fácil identificar que é, de fato e de direito, um governo diferente. Que mantém a continuidade no compromisso com o bem público, mas que não compactua com falcatruas nem irregularidades e que pune quem estiver passeando por esse território bastante próximo da criminalidade rastaquera. 2020 começará sob o signo de uma nova Era – a Era João Azevêdo. Este é o grande fato político do ano que se encerra.