Nonato Guedes
No show que apresentou na noite de ontem, em João Pessoa, para um público compacto e empolgado, que o aplaudiu, demoradamente, de pé, no encerramento, o rei Roberto Carlos rasgou elogios ao Teatro Pedra do Reino, no Centro de Convenções, que estava lotado: “O povo paraibano está de parabéns. Pedra do Reino está entre os melhores teatros do mundo. É uma Casa perfeita, com tantos detalhes, muito linda…”, comentou o artista, embevecido. A obra foi construída no governo de Ricardo Coutinho (PSB), que deixou o Executivo estadual em dezembro do ano passado e já acolheu outros artistas de prestígio como Caetano Veloso, Chico Buarque de Holanda, Gal Gosta, Zé Ramalho, Ney Matogrosso.
“Que showzaço!”, reagiu uma jovem de 16 anos na saída do recinto do Teatro. “Agora posso morrer realizada”, fez coro uma senhora de cabelos brancos, fã ardorosa de Roberto Carlos. O cantor se apresentou por cerca de duas horas, interagindo constantemente com a plateia, exaltando as belezas de João Pessoa e mimoseando as mulheres. “Em mais de trinta e cinco anos de carreira (risos), pude constatar: elas (as mulheres) mandam. Não adianta lutar contra isso. As coisas só acontecem quando elas querem, do jeito que elas querem”, afagou Roberto Carlos, para delírio das fãs. Por pouco, no ritual de distribuição de rosas com as mulheres, ao fim do show, Roberto não foi “arrastado” do palco por fãs que se concentravam em círculos em derredor.
Roberto Carlos intercalou performances de pura emoção com instantes de melancolia, ao evocar em músicas figuras como a mãe, “Lady Laura” e um dos grandes amores de sua vida, Maria Rita. Ou quando homenageou Erasmo Carlos, o amigo “de todas as horas”, que nunca recusou um chamado seu para compor uma música ou trocar dois dedos de prosa, fosse na Urca, no Rio de Janeiro, onde o rei tem residência, fosse em Nova Iorque, onde se apresentou várias vezes. Ao microfone, Roberto contou episódios da relação com Erasmo e falou da importância que este tem na sua trajetória, desde os tempos da Jovem Guarda, em que pontificou ao lado, também, de Wanderléa. Ainda no campo afetivo, o artista elogiou os integrantes de sua banda, nominando um por um. “Devo a figuras parceiras muito do sucesso da minha carreira. Não consegui sozinho esse sucesso, ninguém consegue”, definiu Roberto Carlos, informando que um dos músicos da banda que o acompanha está entre os três melhores do mundo.
No melhor estilo romântico, intercalou canções com frases como “não aceito a ideia de que o amor possa rimar com dor”. Ao se referir à sua vida pontuada de paixões emblemáticas, fez menção a Frank Sinatra que, certa vez, indagado sobre o papel de Ava Gardner na sua história, respondeu: “Ava Gardner foi o melhor e também o pior da minha vida”. Roberto explicou ao seu fã-clube que as músicas que compõe e que integram o seu diversificado e festejado repertório são inspiradas em fatos marcantes que costuma vivenciar. “Tudo sempre me dá motivo para fazer uma música”, resumiu o rei da MPB. Nos bastidores, circulava a informação de que Roberto, por razões óbvias, ligadas à idade, tende a reduzir o ritmo dos shows e apresentações variadas a partir do próximo ano – os espetáculos cairiam de uma média de 130 para menos de 100, devendo privilegiar centros maiores, no Brasil e no exterior. Os depoimentos sobre Roberto, por parte de pessoas da equipe logística de suas exibições, sempre são elogiosos. “Ele passa muita paz, muita tranquilidade”, afirmou André Pessoa Maia, que conduziu o artista para o Manaíra Hotel, em João Pessoa, onde ficou na suíte presidencial.
Último show de Roberto na Paraíba? O rei está pendurando as chuteiras? Que nada! Os telões espalhados no interior de um dos melhores teatros do mundo, conforme suas próprias palavras, já anunciavam o projeto Emoções, a ser feito em cruzeiro marítimo, percorrendo o Brasil ou lugares paradisíacos do exterior, como Cancún. As reservas já começaram e não faltaram interessados, antecipadamente. Na entrada do teatro “Pedra do Reino”, uma homenagem ao falecido teatrólogo paraibano-pernambucano Ariano Suassuna, era intensa a procura por camisetas, bonés, DVDs e outros “souvernis” que permitem relembrar a magia de assistir Roberto Carlos.