Nonato Guedes
A propósito do transcurso, hoje, dos 35 anos do assassinato do jornalista, advogado e empresário Paulo Brandão Cavalcanti, do Sistema “Correio” de Comunicação: em dezembro de 1988, prestes a assumir a prefeitura de João Pessoa, Wilson Braga – que era governador do Estado quando da morte de Brandão – teve que cumprir um compromisso inesperado em meio à agenda preparatória para a posse. Incluído no rol de testemunhas declarantes no processo sobre a morte do jornalista, ele foi ao Tribunal de Justiça prestar depoimento perante o juiz-relator Manoel Taigy. Estavam presentes advogados das partes interessadas e familiares de Brandão. Em pelo menos duas vezes o magistrado precisou interferir para evitar incidentes entre Wilson e o advogado Técio Lins e Silva, vindo diretamente do Rio para a audiência.
Wilson relatou que, pessoalmente, não tinha nenhum motivo para desejar a eliminação do empresário. “Ele era assíduo frequentador da minha casa, e eu e Lúcia fomos padrinhos do seu casamento”, afirmou. Sobre dificuldades de relacionamento entre ambos, surgidas após o jornal “Correio da Paraíba” começar a divulgar notícias de escândalos administrativos, Braga relatou ter participado de um entendimento com a direção do veículo para que tudo fosse publicado, sem que a honra de ninguém fosse atingida. O empresário José Fernandes Neto, ex-superintendente do jornal, havia afirmado ao jornalista Roberto Lopes, da “Folha de São Paulo”, que os dirigentes da empresa concordaram em manter uma conversa com Braga mas nunca deixaram claro que sustariam a posição crítica em relação ao governo, muito menos exigiram qualquer contrapartida financeira. Para Braga, o que havia era uma questão entre os diretores do jornal e o então prefeito da Capital, Oswaldo Trigueiro, diante das acusações publicadas sobre aquisição irregular de caçambas pela gestão municipal. E acusou dirigentes do jornal de “chantagearem” seu governo à frente do Palácio da Redenção.
Em declarações prestadas à repórter Katiana Ramos, publicadas na edição impressa de hoje do “Correio da Paraíba”, José Fernandes Neto, diretor do Sistema “Correio” de Comunicação, que conviveu à época com Paulo Brandão, afirmou: “A morte de Paulo Brandão foi uma violência enorme, que marcou época. Foi talvez a maior violência contra o dirigente de um jornal simplesmente porque o jornal não apoiava o governo. Toda a máquina do Restado estava empenhada em fechar o jornal “Correio da Paraíba”. Eles procuravam todos os anunciantes do jornal e transmitiam ameaças”, revelou José Fernandes. O jornal recorda que quando da morte de Paulo Brandão o país ainda vivia a ditadura militar e proliferavam práticas como o prefeito da Capital ser nomeado pelo governador e não eleito pelo povo. Por conta disso, os escândalos na gestão municipal respingavam no governo do Estado. (As eleições diretas para prefeitos de Capitais foram restauradas em 1985. Em João Pessoa, o médico Antônio Carneiro Arnaud, concorrendo pelo PMDB, tendo como vice Cabral Batista, do PDS, foi vitorioso no bojo de um “acordão” feito com o esquema do governador Wilson Braga. Carneiro derrotou nas urnas o ex-deputado e ex-prefeito de Santa Rita, Marcus Odilon Ribeiro Coutinho, que era apoiado pelo ex-governador Tarcísio Burity e por seus seguidores políticos.
O noticiário sobre o assassinato de Paulo Brandão Cavalcanti registrou, na época, que havia três “comandos” escalados para que o desideratum nefasto fosse alcançado na noite de 13 de dezembro de 1984. O primeiro comando foi o que alcançou Brandão – nas imediações da saída da indústria Polyutil. O segundo reunia, dentro de um automóvel, pistoleiros contratados, nas imediações da sede do jornal “Correio da Paraíba”, já localizado na avenida Pedro II. O terceiro comando estava “plantado” nas imediações da residência de Brandão, no Altiplano Cabo Branco. O “Correio da Paraíba” era editado pelo jornalista Rubens Nóbrega, e coube ao jornalista Nonato Guedes escrever o texto publicado em primeira página, com amplo destaque, sobre as circunstâncias da morte de Paulo Brandão Cavalcanti, cujo corpo foi sepultado no dia seguinte no Recife, com a presença de autoridades como o então governador Roberto Magalhães.