Nonato Guedes
O prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, do Partido Verde, dispõe-se a conversar com o governador João Azevêdo (sem partido) sobre o processo eleitoral à sua sucessão no pleito de outubro do próximo ano. “O governador demonstra ter uma postura de diálogo e isto abre portas para entendimento ou, pelo menos, para um diálogo”, salientou o alcaide, em declarações a jornalistas, quando abordado sobre as afirmações do governador de que não tem dificuldades em abrir canal de interlocução com o prefeito sobre assuntos políticos. Não há, dos dois lados, qualquer sinal de agendamento de data para um encontro.
No momento, Luciano Cartaxo, além de ultimar os atos e as ações administrativas de final de ano na Capital, inclusive, com entrega de obras e serviços, mobiliza-se com vistas à liberação de recursos para o município, a fim de evitar que obras já deflagradas tenham solução de continuidade em prejuízo das carências dos habitantes. Prestes a completar o primeiro ano de administração, Azevêdo, até agora, não recebeu Luciano em audiência, no Palácio da Redenção, para trato de demandas com soluções. Formalmente o prefeito não chegou a solicitar audiência, tendo reiterado, em algumas ocasiões, que não hesitaria em fazê-lo quando houver necessidade.
Nas duas gestões do ex-governador Ricardo Coutinho, que abarcaram grande parte das gestões de Luciano Cartaxo (eleito e reeleito na Capital) não houve clima para distensão de relações institucionais, apesar da narrativa do então governante de que não discriminaria populações de cidades em virtude de divergências políticas ou partidárias. Cartaxo queixou-se, até, de “intromissão indébita” do governo do Estado nas intervenções feitas em áreas que, segundo ele, seriam afetas à prefeitura, que, nesse caso, deveria ser consultada para a celebração de parcerias. Ricardo não deixou de investir em João Pessoa, onde nasceu – chegou a edificar obras de vulto como o Teatro Pedra do Reino, que esta semana acolheu o show do rei Roberto Carlos. Mas o fez em “modo solo”, sem envolver a administração municipal nos projetos e serviços.
Interlocutores do prefeito da Capital analisam que o rompimento entre João Azevêdo e Ricardo Coutinho, motivado por divergências sobre o controle do PSB e o comando do governo do Estado, favoreceu uma aproximação do governador com Luciano Cartaxo. Esses interlocutores disseram à reportagem que a conversa entre os dois pode envolver interesses políticos, mas sem garantia prévia de que possa resultar uma aliança. Cartaxo, do seu lado, procura manter a condução do processo sucessório com mão de ferro, evitando abrir a guarda para especulações sobre preferências por nomes. É uma estratégia destinada, também, a neutralizar eventuais “lobbies” em prol de postulantes que já se anunciam à disputa. Dentro da própria equipe de secretários, há vários pretendentes ao lugar de Luciano.
A expectativa é de que até o final deste mês, que assinala, também, o final do ano de 2019, Luciano Cartaxo tenha uma pré-definição sobre a viabilidade da candidatura do seu grupo às eleições municipais, podendo revelar nomes à imprensa ou, então, ganhar mais tempo nas articulações de bastidores para montar um projeto competitivo e consistente na disputa eleitoral. O governador João Azevêdo, enquanto isso, não decidiu, sequer, o partido ao qual se filiará em decorrência da desfiliação dos quadros do PSB. No arco de sustentação do governo estadual há candidaturas postas em diferentes partidos como o PTB e o Democratas. Azevêdo, porém, avalia o cenário com cautela, atento a opções que possam favorecer o projeto de conquista da prefeitura pessoense. No PSB, Ricardo Coutinho sofre pressões ostensivas dos seus liderados para assumir a candidatura, por ser, aparentemente, o nome mais forte. Mas Coutinho já avisou que não descarta outros nomes, como o do deputado federal Gervásio Maia, que o acompanhou no rompimento com João Azevêdo.