Kubitschek Pinheiro
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Naquele tempo… quando o finado Cazuza cantava que só pedia a Deus um pouco de malandragem, todo mundo entendeu. Quando Chico Buarque escreveu a peça a Ópera do Malandro em 1978, todo mundo que viu entendeu. Todo mundo, virgula.
Aliás, li que a ideia de escrever uma adaptação para os clássicos Ópera dos Mendigos, de John Gay, e A Ópera dos Três Vinténs, de Bertolt Brecht e Kurt Weill surgiu durante uma conversa de Chico Buarque com o cineasta moçambicano Ruy Guerra. Até aí tudo bem. Ou tudo bem só no ano que vem? Tornada realidade anos depois, a peça é dedicada à lembrança de Paulo Pontes, o paraibano que escreveu com Chico “Gota D´água”, em 1975. Isso quer dizer alguma coisa? Muita coisa? Pode ser a gota d´água? Ou a gota serena?
Ontem no final da tarde estava eu sentado esperando ser atendido na sala da dentista que aperta o aparelho, quando, do nada, entra uma mulher e me olha com os olhos da cobra verde e diz em alto e bom som: “Padre Alberico!!!”. Na bucha, eu incorporei o sacristão. Ela foi se dirigindo a mim e eu já de pé, para benze-la, fiz o sinal da santa cruz.
“Nunca mais lhe vi, padre Alberico. Onde andas?”. Eu estou na minha paróquia, Margô. “Na de Cruz das Armas?”. Não, agora estou entre Cabedelo e João Pessoa. “Onde?”. Em Coqueirinho, emendei.
Eu precisaria de muitas vidas pra dar conta de todos os equívocos que acontecem comigo. Quando inventei de ser dark, em 1980 (aquelas criaturas que usavam roupas pretas, no meu caso, tingidas), estava andando na Avenida Paulista, quando uma senhora gritou: “Gente, dá licença que o bispo vai passar”. Bispo, eu?
Sem contar o tempo que fiquei conversando baixinho com D. Irene, que me disse no ouvido: “Não, padre, meu nome é Pedrita. Tá trocando as bolas?”, indagou ela, a verdadeira malandra do pedaço. Se ela se chamasse Julieta, eu jamais seria ateu. Juro aos pés da cruz. Aí eu disse: “está me fazendo de Bolinha de Papel? Ela deu as costas e cantou: “Só tenho medo da falseta, mas adoro a Julieta como adoro a Papai do céu, quero seu amor, minha santinha, mas só não quero que me faça de bolinha de papel. Tiro você do emprego, dou-lhe amor e sossego, vou ao banco e tiro tudo pra você gastar. Posso, Julieta, lhe mostrar a caderneta. Se você duvidar”.
Infinitas vezes sou confundido, mas eu não fico puto da vida. Dona Pedrita, que eu nunca tinha visto mais feia, deu uma rabissaca e sumiu pelas vitrines natalinas. Claro que saí antes e deixei ela falando sozinha, certa que estava livre do sacramento da penitência do Padre Alberico.
Eis que surge aquela fugidinha eventual. Um pulinho rápido no banheiro para urinar, mas na volta a criatura recomeça a conversa. Nessa hora mostrei a ela a foto autografada de Debora Secco nua na capa da Playboy. Ela disse: “É tudo igual, padre. Essas moças são malandras”. Ô padre, hoje o senhor tá com cara de malandro”, disse.
Puxa vida! A toda boa Débora e eu fumando num cachimbo seco…
Meu medo é ser confundido com o cafetão de nome Duran, da Ópera do Malandro de Chico Buarque. Cafetão, eu?
Como diz um amigo da “coluna” lombrar, o espírito natalino já está nas ruas. Pra dentro, crianças.
Kapetadas
1 – Alberto Roberto, eu? Te dana!
2 – Utopia ou miopia? Depende.
3 – Pois Zé, me parece que gente sonsa não percebe quando a comida está insossa.
3 – Som na caixa: “Não posso ficar nem mais um minuto com você”, Adoniran Barbosa.