Nonato Guedes
A doutora Lígia Feliciano, mulher do deputado federal Damião Feliciano (PDT), protagoniza um fato raro na história política paraibana: ela é vice-governadora reeleita, atuando com governadores diferentes, e consegue, no dizer dos políticos, “dar conta do recado com eficiência”. Lígia foi vice de Ricardo Coutinho (PSB) na disputa que ele travou em 2014, já em busca do segundo mandato (no primeiro mandato de Ricardo, iniciado em 2011, o vice foi Rômulo Gouveia, já falecido). A inclusão de Lígia na chapa se deu em meio a uma articulação política feita na undécima hora dos prazos para registro de nomes em 2014. No entorno da campanha de Ricardo, ponderou-se que ele deveria lançar uma mulher e ao mesmo tempo manter na chapa a representatividade de Campina Grande, segundo colégio eleitoral do Estado. Foi quando se chegou ao nome de Lígia.
Antes dela, a Paraíba teve uma vice-governadora – Lauremília Lucena, natural de Sousa, mulher do ex-senador Cícero Lucena (PSDB). Lauremília foi vice de Cássio Cunha Lima no primeiro mandato deste, no Executivo, iniciado em 2003. Ana Lígia Costa Feliciano é também empresária e foi candidata ao Senado em 2002, ficando em quinto lugar. Em 2008, ela figurou como candidata a vice-prefeita de Campina Grande na chapa de Rômulo Gouveia, que foi derrotada em segundo turno por Veneziano Vital do Rêgo, à época filiado ao PMDB, hoje senador pelo PSB. Já assumiu a titularidade do Executivo por diversas vezes, mas mesmo quando é investida no papel de governadora, mantém-se discreta e disciplinada, cumprindo agenda de viagens por cidades do interior ou atendendo a compromissos na Capital.
Tanto na gestão de Ricardo Coutinho como no atual governo de João Azevêdo, Lígia foi peça importante para a aproximação com empresários chineses interessados em investir no Brasil. Ela atuou junto a eles mostrando as potencialidades da Paraíba e as vantagens para investir no Estado, tendo conseguido resultados positivos. Já esteve na China, a convite de representantes do governo e do empresariado, aprofundando os contatos e trocando impressões sobre o intercâmbio entre aquele país e a Paraíba. Ainda recentemente, permaneceu quase uma semana no governo, quando Azevêdo teve que ir a países da Europa juntamente com governadores que integram o chamado “Consórcio Nordeste”. Ao viajar, Azevêdo manifestou a confiança de que o governo ficaria em “boas mãos” sob a condução de Lígia e, ao retornar, deu o depoimento de que ela correspondeu à expectativa e manteve na plenitude a governabilidade do Estado.
Uma situação constrangedora e desgastante para ela e o “clã” familiar deu-se no segundo semestre do último ano do governo Ricardo Coutinho, quando se aproximavam as definições em torno de candidaturas às eleições majoritárias e proporcionais de 2018. Alegando que não confiava em Lígia nem no marido, Damião, Ricardo anunciou aos jornalistas que havia decidido permanecer até o último dia à frente do cargo de governador, abrindo mão da disputa a uma cadeira no Senado, para a qual era tido como franco favorito até em pesquisas extra-oficiais divulgadas. Ricardo insinuou que Lígia e Damião estavam tentando montar um “governo paralelo”, ainda no período da sua permanência no Palácio da Redenção e que, nessas condições, não teria como renunciar e passar o cargo à vice-governadora. A suspeita, segundo circulou, era a de que Lígia estaria arquitetando sair candidata à reeleição caso fosse investida na titularidade do governo com uma eventual renúncia de Ricardo Coutinho. Para Ricardo, tal suspeita quebrava todo e qualquer laço de confiabilidade para com o “clã” campinense. Damião e Lígia foram taxativos no desmentido das versões a esse respeito e a vice-governadora ofereceu o testemunho de que nunca cometera ato de deslealdade para com Ricardo.
A desconfiança de Ricardo criou um mal-estar nas hostes oficiais e desencadeou uma série de reuniões e discussões para contornar o impasse e desfazer as suspeitas alimentadas. A empreitada conciliatória envolveu vários interlocutores e acabou surtindo efeito, através da manutenção de Lígia como candidata a vice na chapa encabeçada por João Azevêdo. A opinião pública foi surpreendida, então, com a convivência cordial entre Ricardo e a doutora Lígia nos mesmos palanques durante a campanha em que se pedia voto para João Azevêdo. No final das contas, o rompimento, no pós-eleitoral, acabou se dando entre Ricardo e Azevêdo (este, remanescente das gestões de Ricardo, inclusive, na prefeitura de João Pessoa). Lígia saiu incólume e deu sua contribuição logística para a vitória de Azevêdo no primeiro turno, na campanha do ano passado.
O deputado Damião Feliciano, hoje, prefere avaliar que tudo não passou de “intriga” que gerou mal-entendido, assegurando que em nenhum momento houve intenção de confronto do seu “clã” com a liderança de Ricardo Coutinho. Quanto ao futuro político de Lígia, é imprevisível. Mas, na opinião de um “expert” da política paraibana, ela já demonstrou que tem bastante habilidade e jogo de cintura, adquiridos na convivência com o próprio marido. “E Lígia demonstrou que, também, tem sorte, o que, às vezes, é decisivo em política”, destaca um informante.