Nonato Guedes
Entre os próprios aliados fiéis do governador João Azevêdo firma-se uma espécie de cobrança de postura de sua parte no trato com os expoentes da classe política. O que se propõe é que ele passe a demonstrar mais habilidade política, como alternativa para facilitar a sustentação da administração que ele enfeixa e o êxito do projeto que pretende executar nos próximos três anos de mandato que vai encarar. Não repercutiu bem, por exemplo, uma declaração do governador tida como infeliz, taxando alguns deputados de “malandros” e de falta de compromisso com o interesse público. A assertiva foi tomada como uma ofensa aos parlamentares e, em certa medida, um desrespeito ao papel que eles desempenham na Casa de Epitácio Pessoa.
A prova de mais habilidade política se torna tanto mais imperiosa para o governador João Azevêdo pelo fato de que ele enfrenta focos de oposição que buscam acuá-lo e à sua gestão, o que o faz andar sob o fio da navalha. Há uma oposição cerrada, inflexível, por parte do grupo ligado ao ex-governador Ricardo Coutinho, que praticamente “expulsou” Azevêdo das hostes do PSB e que não tem nenhum interesse em acordo com o chefe do Executivo e há a oposição institucional, que em muitas ocasiões pode ser maleável, mas em outras não abre mão de princípios. É o caso, por exemplo, da ação movida pelo deputado Raniery Paulino (MDB), que barrou a votação do projeto da previdência estadual em regime de urgência urgentíssima, como pleiteado pelo Palácio da Redenção.
O argumento do deputado Raniery, que encontrou eco favorável em segmentos da opinião pública, foi o de que, pela complexidade e pelas nuances da reforma da previdência paraibana, impõe-se um debate aprofundado, minucioso, para que todas as dúvidas sejam dissipadas e todos os esclarecimentos sejam formulados com clareza. Com isto, o deputado por Guarabira faz um contraponto à estratégia que passou a ser utilizada pelo governo do Estado, baseada no açodamento, na sangria desatada para votação urgente do projeto a pretexto de que é necessário adaptar-se ao texto da Previdência Nacional aprovado com celeridade pela Câmara dos Deputados e pelo Senado.
Ocorre que o debate acerca das Previdências estaduais, de certa forma, chegou tarde. Perdeu-se tempo em Brasília discutindo no núcleo do governo Bolsonaro e junto a lideranças legislativas se deveria haver ou não a inclusão dos Estados e municípios na proposta ampla que foi encaminhada ao exame do Congresso. Governadores e prefeitos chegaram praticamente a dormir no ponto, confiantes em que seriam beneficiados com uma fórmula providencial de última hora que desafogasse os seus respectivos caixas e não acarretasse o desgastante prejuízo para funcionários públicos sujeitos a desconto no contracheque. Ora, havia resistência forte do Palácio do Planalto a essa medida, que interessava mais diretamente a deputados e senadores de olho nos apoios de prefeitos e governadores para as campanhas à reeleição no próximo ano. Foram os deputados e senadores que mais se empenharam em fazer “média” com as lideranças regionais, acreditando no suposto poder de fogo que teriam para emparedar o governo do presidente Bolsonaro.
No final das contas, tudo não passou mesmo de pirotecnia porque a verdade é que Estados e municípios tiveram que se cozinhar com suas próprias banhas sob pena de ficarem de fora das mudanças no sistema previdenciário. Os gestores tornaram-se, então, reféns de deputados estaduais e de vereadores. Mas eis que, da parte do governador João Azevêdo e da sua coordenação política, faltou o elemento “habilidade” que se traduziria na negociação com os integrantes da Assembleia Legislativa, de todos os partidos, principalmente do bloco oposicionista e o resultado é o impasse que aí está desenhado, retardando o que o Executivo planejava abreviar.
Virão outros episódios conflitantes, porque isto é da natureza do jogo político e da relação institucional ou administrativa. Mas o governador João Azevêdo, pode-se dizer, já foi colocado diante de uma prévia, que pode ser resumida no seguinte: governos podem muito, mas não podem tudo. O próprio avanço que tem sido alcançado na empreitada pela democracia no Brasil, de um modo geral, torna os segmentos políticos e sociais mais ativos, mais engajados, mais participantes na tomada de decisões. Convém ao atual chefe do Executivo extrair as lições indispensáveis embutidas nesse episódio e partir para reformular decisões erradas ou equivocadas. Fazer o que o ex-presidente Juscelino Kubitscheck dizia: “Volto atrás, sim, em alguma decisão. Não tenho compromisso com o erro”. De resto, governantes não são infalíveis.