Nonato Guedes
No transcurso, hoje, de 60 anos de criação da Sudene (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste), o empresário e escritor Roberto Cavalcanti ressalta, em artigo no jornal “Correio da Paraíba”, a relevância do órgão para o processo de desenvolvimento do Nordeste e para mudanças estruturais na região. Para ele, nada mudou “em seu obsessivo sonho de transformar o Nordeste. Seu principal objetivo perdura até os presentes dias: “encontrar soluções que permitissem a progressiva diminuição das desigualdades verificadas entre as regiões econômicas do Brasil”.
Roberto lembra que a Paraíba contribuiu na criação da Sudene, “com a iluminação e inspiração do economista, pensador e homem público Celso Monteiro Furtado (1920-2004, o primeiro superintendente e “o centro genético de tudo”. Salienta que Celso, natural da cidade de Pombal, cujo centenário de nascimento será celebrado no próximo ano por iniciativa da deputada Pollyanna Dutra, do PSB, fez parte, junto com Raul Prebisch, da Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), exercendo grande influência nesta parte do continente com suas ideias sobre o desenvolvimento e o subdesenvolvimento que divergiam das doutrinas econômicas dominantes.
Celso Furtado foi, também, ministro do Planejamento do governo do presidente João Goulart, deposto em março de 1964 pelo golpe militar instaurado no país e que vigorou até 1985. Teve os direitos políticos cassados e exilou-se em Paris, onde atuou como docente na famosa Universidade de Sorbonne, retornando ao Brasil quando da concessão da anistia decretada em 1979 no governo do general João Figueiredo, o último governante do ciclo militar. Ao resgatar as origens da Sudene, Roberto Cavalcanti se refere à criação do GTDN (Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste) em 1956, que passou a ser Codeno, sucedido por Sudene, Adene e voltando a se denominar Sudene em 2002. O primeiro encontro dos bispos do Nordeste, realizado em Campina Grande no ano de 1956, mais uma vez realçava o pioneirismo da Paraíba na concepção de soluções para o Nordeste.
De acordo com o empresário Roberto Cavalcanti, foi construída uma falsa imagem, há algum tempo, “por uma mídia sulista comprometida”, de que o referido órgão seria uma instituição que não realizava os fins a que se propunha. Por conta disso teve, por determinado período, a sua extinção decretada pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, sendo finalmente recriada em 2002. “Hoje, sou testemunha viva de que todo esse processo que proporcionou ao Nordeste ter uma outra posição na economia do Brasil chama-se Sudene. Sem a Sudene, posso afirmar com total isenção e vivência junto àquela instituição, nosso Nordeste não seria o mesmo. Acosto-me às comemorações dessa data alusiva aos seus ricos e proveitosos 60 anos e rebato, de forma veemente, qualquer crítica feita a ela ao longo de todo esse tempo em que construiu um novo Nordeste”.Diretor da Confederação Nacional da Indústria – CNI, Roberto Cavalcanti lembra que no seu nascedouro a Sudene era subordinada diretamente ao Presidente da República, administrativamente autônoma e sediada na cidade do Recife. Cita que se considerava Nordeste a região abrangida pelos Estados do Maranhão, Piauó, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e Paraíba. Abrigaria, também, a zona de Minas Gerais compreendida no Polígono das Secas e, posteriormente, o norte do Espírito Santo.
Na sua edição de 16 de dezembro de 1959, o Diário Oficial da União trazia o texto do decreto datado de 15-12-59, que vinha assinado pelo presidente Juscelino Kubitscheck e ministros, oficializando a criação da Sudene. “A origem de sua criação foi fruto de uma constatação histórica de que nossa região já era identificada como aquela que, periodicamente, estava exposta ao efeito avassalador das secas, acrescenta Roberto Cavalcanti, lembrando que na década de 1950 há registro de duas grandes secas, a primeira em 1952, que por sua brutalidade inspirou a canção “Vozes da Seca”, de Luiz Gonzaga e Zé Dantas, com a qual protestam em verso por uma ação mais efetiva dos políticos para o Nordeste.