Nonato Guedes
A história da atuação do ex-governador Ricardo Coutinho dentro do PSB da Paraíba é repleta de insinuações de ingratidão, deslealdade e perseguição, já na fase que antecedeu ao atual rompimento com o governador João Azevêdo. A advogada criminalista Nadja Palitot, então vereadora por João Pessoa, cedeu o comando estadual da legenda a Ricardo no começo dos anos 2000 depois que ele enfrentou ameaça de expulsão do PT por alegado descumprimento de acordo partidário. Foi pela legenda socialista que Coutinho se elegeu prefeito da Capital, em 2004, e 2008. No comando da agremiação, agiu para minar os espaços de Nadja, conforme denúncia feita por ela, à época. Tendo ascendido a um mandato de deputada estadual, na vaga de Leonardo Gadelha, que ocupou secretaria de Infraestrutura no governo José Maranhão, Nadja abriu as baterias contra Ricardo, dizendo-se, inclusive, vítima de “retaliação desumana”.
À frente da direção estadual socialista, Ricardo praticamente comandou um “expurgo” de filiados em quem não confiava e bateu o pé contra a aceitação, pelo deputado Guilherme Almeida, da secretaria de Interiorização do governo Maranhão, ameaçando aplicar sanções disciplinares. Nadja foi quem mais “emulou” com Ricardo – ela não se conformava por ter sido marginalizada depois do gesto cortês que demonstrou em relação a Ricardo. Como vereadora, foi polêmica e combativa na formulação de denúncias contra o prefeito, acusando-o de não pagar salário compatível a merendeiras e agentes de saúde. Nadja chamou de “milícia de bombados” a Guarda Municipal da administração da capital, sobretudo quando operava para reprimir pequenos comerciantes.
A advogada revoltou-se, por fim, com a iniciativa de Ricardo Coutinho de aproximar-se politicamente do ex-governador Cássio Cunha Lima (PSDB), com quem fez dobradinha nas eleições de 2010. O canal de interlocução de Nadja na cúpula nacional socialista era o ex-governador de Pernambuco, Miguel Arraes de Alencar, mas, àquela altura, o neto de Arraes, Eduardo Campos, que também governou o vizinho Estado, começava a ter hegemonia no PSB, redirecionando a política de alianças ou composições políticas e eleitorais nos Estados da região. “A máscara de Ricardo caiu quando ele se compôs com Cássio Cunha Lima”, desabafou Nadja, acrescentando que sofria provocações por parte de figuras da confiança de Ricardo infiltrados na cúpula estadual. Ela também ironizou o chamado “Coletivo Ricardo Coutinho”, que acabou sendo extinto pelo próprio Ricardo numa entrevista ao “Jornal da Paraíba”.
Nadja Palitot lembrou que há cerca de doze anos militava nas hostes socialistas paraibanas quando estourou o conflito entre Ricardo Coutinho e a cúpula do Partido dos Trabalhadores. Concordou, então, em abrir as portas para ele e repassar-lhe o comando da agremiação, com a missão de estruturá-la no Estado. Sua avaliação posterior, entretanto, foi a de que Coutinho fez do PSB um trampolim para pretensões personalistas ou pessoais, a fim de pavimentar ambições tanto de conquistar a prefeitura da Capital como de se eleger ao governo do Estado em duas oportunidades. No desabafo, Nadja considerou Ricardo um “desagregador” e incluiu na lista de “vítimas” dele, mais tarde, o ex-prefeito de João Pessoa, Luciano Agra, que foi rifado por RC na pretensão de ser candidato a prefeito em 2012. Naquele ano, Coutinho lançou a candidatura da jornalista Estelizabel Bezerra, que não foi, sequer, para o segundo turno, somente mais tarde elegendo-se deputada estadual.
– Posso assegurar que sobrevivi às manobras engendradas por Ricardo Coutinho e continuo forte na militância política – expressou, em meio aos incidentes, Nadja Palitot, que nas eleições do próximo ano cogita ser candidato a prefeita de Bayeux pelo Solidariedade, presidido hoje na Paraíba pelo vice-prefeito de João Pessoa, Manoel Júnior. A advogada encetou gestões junto a líderes e expoentes da direção nacional do PSB, censurando atitudes tomadas por Coutinho à frente da legenda no Estado, mas não foi levada em consideração nas suas ponderações. O rompimento de Ricardo com Azevêdo na conjuntura presente reproduz, na opinião de Nadja, o “estilo inafetivo” de Ricardo de fazer política, observando que ele tem por hábito focar no próprio umbigo e utilizar outras pessoas para colaborarem com o êxito das suas ambições. Interlocutores de Ricardo contrapõem a essas versões o raciocínio de que ele se impôs com naturalidade dentro do PSB, tanto na fase da militância de Nadja como mais recentemente no processo de eleição de João Azevêdo, que se considerou praticamente expulso da legenda socialista pelo ex-aliado que pediu votos no seu palanque em 2018. Nadja garantiu que considera página virada a história de sua passagem pelo PSB paraibano e diz que não ficou surpresa com o desentendimento entre Ricardo e Azevêdo, até porque já sentira na pele os “efeitos” do que chama de maquinações políticas urdidas por Coutinho. Na queda-de-braço com Azevêdo, Ricardo teve irrestrito apoio da cúpula nacional, presidida por Carlos Siqueira (PE). A expectativa é quanto ao tamanho do partido, já que se prevê uma debanda em massa de quadros interessados em acompanhar a orientação política de Azevêdo.