Pelo menos cinco escolas de samba do Rio de Janeiro preparam-se para desfilar no Carnaval levando a tiracolo o estandarte político, como reflexo da polarização que tem tomado conta do país desde as eleições de 2018. A Mangueira, segundo levantamento da revista “Veja”, terá como mote em 2020 “A Verdade Vos Fará Livre”, em que Jesus Cristo se solidariza com os moradores das favelas. Diz a letra, à certa altura: “Será que todo povo entendeu o meu recado?/Porque de novo cravejaram o meu corpo/ os profetas da intolerância. A Mangueira foi a escola campeã em 2019, com um enredo versando sobre mazelas sociais.
Enquanto isso, a tradicional agremiação Portela também carregará nas tintas políticas, inclusive com uma crítica discreta ao presidente Jair Bolsonaro e aos líderes evangélicos. ”Guajupiá, Terra Sem Males” pontifica: “Nossa aldeia é sem partido, ou facção/não tem bispo nem se curva a capitão. Na escola São Clemente, o humorista Marcelo Adnet é um dos autores de “O Conto do Vigário”, que fala de corrupção, em especial, dos figurões presos pela Operação Lava-Jato, além de críticas ao governo do presidente Bolsonaro. Será um protesto bem-humorado, como se pode notar por versos assim: “Vazou, deu sururu/Tem marajá puxando férias em Bangu”. Na escola Unidos da Tijuca, Dudu Nobre e Jorge Aragão estão entre os autores de “Onde Moram os Sonhos”, que aborda a situação do Rio e a ecologia: “Lágrima que desce o morro/Serra que corta a mata/O Rio pede socorro/É terra que o homem maltrata/E meu clamor abraça o Cristo Redentor/Pra construir um amanhã melhor”.
Na Mocidade Independente de Padre Miguel, Elza Soares é a homenageada da escola, que aproveita o enredo para falar de pobreza e racismo, como se constata nestes versos: “É sua voz que amordaça a opressão/Que embala o irmão/Para a preta não chorar”. Os versos são de autoria da artista Sandra de Sá. A gestão do prefeito do Rio, Marcelo Crivella, tem sido intensamente criticada pela omissão no equacionamento de demandas urgentes da população. Pesquisas realizadas atestam elevado percentual de impopularidade do Rio e reprovação também numerosa à sua administração. Diferentes partidos já anunciam nomes competitivos para a disputa pela prefeitura no próximo ano.