Nonato Guedes
Pelo menos quatro ex-governadores da Paraíba tiveram problemas com a Justiça na história recente da Paraíba: Wilson Braga, Ronaldo Cunha Lima, Cícero Lucena e, agora, Ricardo Coutinho. Nos últimos dias, após 15 anos de tramitação processual, o Tribunal Regional Federal da Quinta Região julgou recurso de apelação do ex-prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (PSDB) contra sentença de condenação imputada pela Terceira Vara da Justiça Federal em João Pessoa, condenando Lucena por corrupção. A Quarta Turma proferiu veredicto inocentando Cícero Lucena das acusações de superfaturamento de obras e outras irregularidades à frente da prefeitura da Capital, que ele ocupou por duas vezes – a partir de 1996 e a partir de 2000.
Em 21 de julho de 2005, Cícero foi alvo de mandado de prisão expedido pela Polícia Federal em meio a denúncias sobre a Operação Confraria, um esquema de suposto favorecimento a empreiteiras e desvio de recursos públicos federais, somando cerca de R$ 100 milhões. Outras sete pessoas foram arroladas, inclusive, ex-auxiliares da administração pessoense, ficando soltas à disposição da Justiça. O processo começou a tramitar em segredo de Justiça e Cícero revelou ter conseguido desmontar o rol de acusações imputadas a ele. Antes de Lucena ser envolvido na Operação Confraria, eclodiram versões sobre supostas irregularidades em contratos da prefeitura. O Ministério Público da Paraíba começou a citar ex-secretários para que justificassem alguns questionamentos da Controladoria-Geral da União. Cícero colocou-se à disposição da Justiça em Brasília e Recife. Em João Pessoa, foi ao Ministério Público falar com o Procurador Fábio George para esclarecimentos. Na sua opinião, diante de contradições detectadas nos autos, ficou a impressão de que ele fora vítima de uma orquestração política.
Já o ex-governador Wilson Leite Braga foi incluído no rol de testemunhas declarantes no processo sobre a morte do jornalista, advogado e empresário Paulo Brandão Cavalcanti, sócio-proprietário do jornal “Correio da Paraíba” que publicou uma série de denúncias sobre irregularidades no governo do Estado e na prefeitura de João Pessoa, na gestão Oswaldo Trigueiro. As investigações conduzidas pela Polícia Federal concluíram que havia sido usada uma metralhadora pertencente à Casa Militar do governo do Estado, na execução do jornalista e empresário, que levou trinta e três tiros quando saía, no seu automóvel, da sede da empresa Polyutil, no Distrito Industrial de João Pessoa, em 1984. Braga se disse inocente e afirmou em juízo que não tinha nenhum motivo para desejar a eliminação do empresário.
Já o ex-governador Ronaldo Cunha Lima figurou nas manchetes nacionais depois de ter atirado contra o ex-governador Tarcísio Burity no restaurante “Gulliver” na orla marítima de João Pessoa. Ronaldo chegou a ser conduzido à sede da Polícia Federal em Campina Grande para onde se deslocara após o atentado no “Gulliver”, tendo sido solto graças a um habeas-corpus impetrado pelo advogado Saulo Ramos e concedido pelo ministro William Patterson. O atentado verificou-se no dia cinco de novembro de 1993 e o processo contra Cunha Lima arrastou-se quando ele já estava fora do governo, mas ocupando mandato parlamentar. Ronaldo chegou a pedir perdão a Burity e revelou à opinião pública que teria agido em defesa da honra pessoal, diante de insinuações assacadas por Burity contra o seu filho, Cássio Cunha Lima, referentes à passagem deste pela superintendência da Sudene no governo de Itamar Franco. Ricardo Coutinho, que sempre se jactou de ter implantado uma “revolução nos costumes políticos” na Paraíba é a figura exponencial mais recente com contas a acertar com a Justiça, por alegado envolvimento em irregularidades que promoveram uma elevada sangria nos cofres públicos estaduais. A expectativa é grande, junto à opinião pública, sobre os desdobramentos do problema ocorrido com Ricardo Coutinho.