Nonato Guedes
A Polícia Federal na Paraíba desencadeou neste sábado, 21, mais uma operação envolvendo políticos do Estado. Desta feita, a operação “Pés de Barro” resultou na prisão do prefeito de Uiraúna, no Sertão, João Bosco Nonato Fernandes, do PSDB e do seu motorista Severino Batista do Nascimento Neto. Em paralelo, o deputado federal Wilson Santiago (PTB), que tem base eleitoral, também, em Uiraúna, entre outros redutos, foi alvo de mandado de busca e apreensão na mesma operação. E o parlamentar, que é presidente do diretório estadual do PTB, também foi afastado do cargo por decisão do ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal. A operação versa sobre pagamento de propinas, pela construtora Coenco, ao deputado e ao prefeito, no bojo de suposto superfaturamento das obras de construção da adutora Capivara.
De acordo com as informações, a base da operação desencadeada hoje foi um acordo de colaboração premiada firmado por um executivo da construtora Coenco. Ele disse à Polícia Federal que teria sido pressionado a pagar propinas de 10% ao deputado e de 5% ao prefeito. Este último teria passado a receber os recursos a partir de 2017. O sistema adutor deve se estender do município de São João do Rio do Peixe ao de Uiraúna, ambos no sertão paraibano. As obras contratadas, inicialmente, pelo montante de R$ 24,8 milhões já teriam permitido, de acordo com as investigações, a distribuição de propinas no valor de R$ 1,2 milhão. Evani Ramalho e Israel Nunes de Lima, assessores de Wilson Santiago, foram igualmente presos na ação.
As ordens de busca e apreensão, prisão preventiva e suspensão do exercício de funções públicas foram expedidas pelo ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, tendo em vista a previsão constitucional de foro por prerrogativa de função de um dos investigados, que exerce o mandato de deputado federal. A expectativa é de que a Câmara seja convocada extraordinariamente para deliberar sobre a manutenção ou não do afastamento de Wilson Santiago do mandato. Os investigados deverão responder pelos crimes de peculato, lavagem de dinheiro, fraude licitatória e formação de organização criminosa. As penas, somadas, ultrapassam 20 anos de reclusão. Apurou-se que oitenta policiais federais estão envolvidos na operação. O deputado Wilson Santiago deu sua versão sobre os fatos, afirmando ter sido surpreendido pela operação da PF, o mesmo ocorrendo com o prefeito de Uiraúna,
Pelo relato de Santiago, a operação em questão foi baseada na delação do empresário George Ramalho, preso em abril de 2019 na Operação Feudo. “Segundo as informações preliminares – diz o deputado – o delator iniciou no segundo semestre de 2019 a construção de um roteiro que servisse como base para acordo que lhe favorecesse na operação em que foi alvo de prisão. O delator busca a todo momento construir relações que possam nos implicar de forma pessoal e criminalizar o trabalho parlamentar. Temos certeza de que esse tipo de ação criminosa será coibido”, acrescenta Santiago, asseverando que tomará providências cabíveis para que “a verdade venha à tona, com o esclarecimento das questões objeto das investigações e o restabelecimento de direitos”. Conclui frisando: “Estamos à disposição da Justiça para colaborar em todo o processo”. Já a assessoria do prefeito de Uiraúna, João Bosco Nonato Fernandes, divulgou nota no Instagram revelando o desejo do gestor de também colaborar com as investigações da PF, “no que for possível”.