Nonato Guedes
Um artigo do empresário e escritor Roberto Cavalcanti, que a Paraíba teve a honra de contar como senador por um bom período, datado de 24 de outubro de 2010 e apropriadamente incluído no seu livro “Como Penso”, indagava: “Que Paraíba chegará a 2020”. A evocação ocorre por estarmos a poucos dias da virada no calendário que nos apresentará a 2020 e aos seus desafios e por assinalar, mais do que traços premonitórios da personalidade instigante do doutor Roberto, o seu espírito público refletido na preocupação em projetar passos que deveriam ser empreendidos – ele que é um obcecado pelo empreendedorismo – no sentido de fazer o nosso Estado cruzar com galhardia o marco que regula um novo começo de era, pelo menos na expectativa dos que amam esta terra, independente de terem nascido junto com tabajaras e potiguaras, tribos indígenas que são expressão da nossa história, espécie de marco geodésico de uma trajetória pulsante que, como a vida, não para.
Ao se aventurar por ideias esparsas de como seria a Paraíba no ano que finalmente está chegando, o doutor Roberto Cavalcanti adicionou pitada própria de propostas concretas que viabilizassem um novo e promissor desideratum. “Paraíba precisa rimar com ousadia”, propunha ele, no escrito, depois de alertar que Paraíba pequenina só fica bem na rima. “Pragmaticamente, não é nada poético produzir os menores PIB, patinar nas estatísticas de desenvolvimento humano e permanecer entre os últimos do ranking nacional de riqueza”, acicatava o ex-senador, que imprimiu seu rastro empreendedor ao transformar o complexo de comunicação “Correio da Paraíba” num bem-sucedido projeto de demonstração do potencial paraibano. Vindo das vizinhanças, do pernambucano Leão do Norte, o empresário fez-se o mais paraibano dos paraibanos, cravando sólida e benfazeja contribuição – sempre para o avanço, para a expansão, para a redenção deste solo abençoado.
Na exegese que fazia há uma década da nossa realidade atemporal, o doutor Roberto teorizava que, sem rimar com ousadia, a Paraíba ficaria, sozinha, com sua pequenez, “pois o Brasil caminha a passos largos para figurar entre as cinco maiores economias mundiais até 2020”. Inquietava-lhe saber se, concluída a década que estava se iniciando, a Paraíba estaria emparelhada com o Brasil de Primeiro Mundo. E provocava: “Façam suas apostas, mas conscientes de que a resposta precisa ser dada agora”. Parafraseando o ex-presidente americano Barack Obama – “Yes, wecan”, Roberto Cavalcanti brandia no escrito: “Nós podemos escapar da condição de mancha vergonhosa de pobreza em meio ao mapa de prosperidade, mas só se perdermos o medo de pensar grande”. O empresário, escritor, ex-senador, nunca se conformou com resquícios de complexo de inferioridade, traduzindo estágio de dependência grave e prenunciando reação de indolência, comodismo ou covardia diante do contencioso que deve ser enfrentado.
Daí, exortar a que se procurasse projetar em 2010 o que queríamos ser daqui a pouco, em 2020. Isto significava, para ele, iniciar já obras que ficariam prontas em dez, vinte anos, a exemplo do ramal da Transnordestina, de um grande aeroporto que permitisse a explosão esperada para o nosso turismo e do porto de águas profundas que, ao contrário do que alardeavam algumas “cassandras”, não inviabiliza a revitalização do Porto de Cabedelo. Nenhuma dessas obras – pontuava o doutor Roberto – representava risco para a continuidade das ações de sustentação que precisavam ser implementadas no dia a dia governamental, como ampliação da rede escolar e dos acessos aos serviços de saúde, do combate à violência e a redução dos déficits habitacionais. “O que não se pode aceitar como viável – obtemperava o doutor Roberto – é o entendimento de que o que custa caro e demora a ser feito é demais para os paraibanos.
Elevando alguns decibéis o tom das palavras admoestadoras, o “profeta” Roberto Cavalcanti vergastava, no epílogo do escrito, mais uma vez, o sentimento do complexo de inferioridade: “É tempo de deixar para traz as rimas que ligam Paraíba às miudezas. Como fizeram os pernambucanos, que há duas décadas planejaram o Porto de Suape, e o povo potiguar, com sua via litorânea e agora com a primeira parceria público-privada para a construção de um grande aeroporto. Nossos vizinhos nos ensinam, com sua marcha de progresso, uma mensagem importante: musicalidades à parte, não existe beleza nem poesia na pobreza”. Sábias palavras, doutor Roberto Cavalcanti. Uma década depois, no limiar do ano 2020, tal como pensado, o escrito mantém uma atualidade invejável, assaz convidativa de reflexões mais densas sobre o que, nesse interregno, aconteceu, e o que precisa, mais do que nunca, ser concretizado para que os prognósticos saiam do papel e adentrem no universo da plenitude realizadora.