Kubitschek Pinheiro
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Logo é 2020. Continuo a viagem, no sentido contrário à rotina. Muito embora ainda agarrado ao pão integral, com queijo branco, mamão e suco de caju ao amanhecer. Dizia o pensador Marcel Proust (foto) que a viagem da descoberta consiste não em achar novas paisagens, mas em ver com novos olhos. Então, vamos à batucada na casa da vizinha com seu vestido grená. Todo mundo diz que é mas como a vizinha não há.
Nessa nova viagem nada de extraordinário. Tudo é bastante elementar: as cursas da Avenida Beira Rio como se eu fosse de comboio para a cidade abandonada, cheia de idosos, lixo e quase nada, quase nada. Novidade? Só velha corrida às lotéricas pra Mega da “cena” da Virada, que funciona mais ou menos, assim: não ganhou, se vire.
Aqui não existe sequer cenário em ruínas e tudo é só construção, pras bandas da orla. Das janelas dos apartamentos luxuosos do Altiplano à noite, João Pessoa parece uma metrópole. Só parece. Verticalmente. Uma ilustração de uma estratificação social que assim classifico a sucessiva ocupação e edificação dessas torres. A velha cidade vegetal, como a chamou um dia aquele que parecia com ele mesmo, Zé Américo. Soy loco por ti, América
À tardinha quando volto para casa tento mudar o trajeto. Sonho encontrar um outeiro e não furo o velho sinal vermelho. Não furo, não furo. Sou igual a professora Neide Candolina, da canção de Caetano. Preta sã, ela é filha de lansã, ela é muito cidadã.
Alguns metros à frente depois de virar esquinas, sou tentado a entrar numa farmácia, mas são tantas que nunca saberemos identificar ou saber se as pessoas estão doentes, provavelmente, pela soma das patologias que estão expostas nas prateleiras, penduradas até o teto. Nas drogarias vendem até xaropes, pra não dizer que não falei das flores. Já ouviu direito essa canção do Vandré? Parece uma cantoria, uma procissão. Ainda fazem da flor seu mais forte refrão.
O mar! Ah o mar, sem ele não seriamos cosmopolitas. Só essa imensidão é que me traz essa sensação. Talvez seja essa praia, a inicial da minha vida, do Cabo Branco, a mais bonita. Talvez Proust tenha razão, viajar não tem a ver com a distância, a melhor maneira de ver é com novos olhos, igual o desenho de uma criança. Por isso sou egoísta e digo que esse mar é meu. É teu, é nosso! Leva seu barco pra lá desse mar.
Sendo especialmente assíduo, já sou de Casa, como se tivesse sido parido num navio, posso dizer que gozo desse estatuto territorial: se estou sozinho, tenho sempre um novo caminho. Por que você me esquece e some? E se eu me interessar por alguém?
No “Itinerário Lírico” de Jomar Moraes Souto, eu sou a cidade sentimental. Estou na Bica, no Mercado Central, na lateral do Mosteiro de São Bento, olhando para Nossa Senhora das Neves e, vez em quando, vou à Penha pedir paz para trabalhar. Penha! Penha! Eu vim aqui me ajoelhar
Assim continuo a viagem que aprendi com Proust, nunca a do tempo perdido. Jamais. Me de motivo, vai ser agora.
P.S. Essa semana, ou a semana passada, ou no ano passado, encontrei uma amiga que tinha os cabelos encaracolados, uma morena de endoidecer, que desenhava maluquices em seu corpo. Nos abraçamos e eu disse: seu cabelo está belo, da cor do sol. E ela: “Meu caro K, as mulheres não envelhecem, elas ficam loiras”.
Saudades de Lolita, do admirável Vladimir Nabokov!
Kapetadas
1 – Já dizia Glória Perez: “Filho não se conjuga no passado” Essa mãe faleceu há dois meses. Nossa homenagem a atriz Hilda Rebello que morreu, aos 95 anos, no domingo passado, mãe do ator Jorge Fernando
2 – As celebritys tudo em Trancoso, Ceará e Rio Grande do Norte. O dólar alto tá prendendo os famosos no Brasil e promovendo o turismo nacional. Ah! Se o dinheiro desse.,
3 – Preta Gil de biquíni “morangão suculento” – arrozô. Confira no IG dela.
4 – O que não mata, vira texto pra stand up
5 – Som na caixa: “Viver é melhor que sonhar”, Belchior.