A deputada federal Luíza Erundina, natural de Uiraúna, na Paraíba, que já foi prefeita de São Paulo na década de 90 pelo PT e atualmente é filiada ao PSOL, está sendo assediada por dirigentes psolistas para compor, como vice, a chapa de Guilherme Boulos à prefeitura paulistana este ano. Aos 85 anos, Luíza Erundina já anunciou a intenção de concluir trajetória política ao fim do sexto mandato que exerce no Congresso, mas, ao mesmo tempo, tem sido instigada a adiar a aposentadoria e ser vice na chapa de Boulos, que foi candidato a presidente da República e no último ano percorreu 23 estados, auxiliando na organização de movimentos populares, sem se descuidar dos sem teto, a sua base.
Em conversas reservadas, lideranças do PT reconhecem que a dupla Boulos-Erundina tem potencial para avançar sobre a base petista, conforme a revista “Carta Capital”. Guilherme tinha planos distintos para 2020 como o de se consolidar como líder popular de expressão nacional e tem sido assediado de forma insistente por dirigentes petistas para concorrer à prefeitura pela sigla. A orientação nesse sentido teria sido dada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está em liberdade após ficar preso por pouco mais de um ano na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. Lula costura as articulações para lançamento de candidaturas a prefeito ou alianças em capitais e cidades médias do país, num esforço para reerguer o PT, contaminado por escândalos e prisões.
A ideia da chapa Boulos-Erundina ganhou asas em notas de jornal e não tardou a seduzir a militância psolista, acrescenta “Carta Capital”. Pelas redes sociais multiplicaram-se as manifestações de apoio à chapa, tida como dotada de potencial para surpreender na disputa. O cientista político Cláudio Couto, da Fundação Getúlio Vargas, opina que na eleição municipal deste ano é aguardada uma certa pulverização de candidaturas, até pelo impedimento às coligações proporcionais. Com essa dispersão, nomes mais conhecidos pelo eleitorado, com certo recall, tendem a beneficiar-se. Apesar de o PSOL não se constituir em partido de muito apelo em São Paulo, Erundina e Boulos têm a vantagem da visibilidade. “Ela foi prefeita, ele acabou de disputar uma eleição presidencial. Não é pouco”, situa Cláudio Couto.
Entusiasta da chapa, o deputado federal Ivan Valente acredita que a dupla tem chances reais de atrair o apoio da maioria progressista. “Em 2018, tivemos uma eleição muito polarizada e Boulos sofreu com o voto útil, assim como ocorreu com Erundina em 2016. Ela começou a campanha pela prefeitura paulistana com 11% das intenções de voto e terminou com pouco mais de 3%”, diz Valente, arrematando: “Agora, o cenário é distinto. Tudo indica que teremos muitos candidatos. Se lançar o Haddad (Fernando Haddad), acho difícil o PT apresentar outro nome capaz de empolgar”. Haddad, por enquanto, resiste a participar das eleições municipais. No PSOL, a deputada federal Sâmia Bonfim, jovem liderança feminista, e o deputado estadual Carlos Gianazzi, com longa trajetória de militância na área da Educação, apresentaram-se na disputa. Mas as chances são escassas diante da perspectiva da chapa Boulos-Erundina. “Em princípio, não desejo ser candidata a mais nada. Se fosse convidada para ser vice de Boulos, teria de pensar muito a respeito”.