Linaldo Guedes
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As cidades da Paraíba continuam surpreendendo. Costumamos ficar bitolados nas grandes cidades e esquecemos que um estado ou país não se faz com multidões ou com engarrafamentos, mas com história. Na Paraíba, por exemplo, ficamos refém das belezas de João Pessoa e da ousadia de Campina Grande. Mas e as outras cidades? Há verdadeiras preciosidades espalhadas pelos mais de 200 municípios da Paraíba. Areia, por exemplo.
Misto de terra da cultura e referência histórica por causa de nomes como Pedro Américo e José Américo de Almeida, a cidade de Areia tem seu Centro Histórico tombado pelo Iphan e por isso preserva em suas ruelas e casarios uma beleza ímpar dentro da Paraíba. Beleza e história, repito, porque uma cidade não é só o lado estético, mas todo um conjunto histórico que vai de seus poetas, escritores e artistas até mesmo aos políticos ou empresários que construíram o legado que passa por várias gerações.
Passear pelas ruas e olhar o casario histórico de Areia é encantador. É como se viajássemos ao passado, um passado que teimamos em esquecer nesses tempos estranhos que estamos vivendo. E essa viagem ao passado se amplia quando entramos nos museus da cidade localizada no Brejo paraibano. Impressiona como uma cidade de pouco mais de 20 mil habitantes consegue ter e manter tantos museus e tanta valorização de sua cultura! Fomos em dois museus, mas sabemos de mais que não tivemos tempo de visitar, como o da Rapadura, localizado dentro do Campus da UFPB.
Um dos museus que visitamos, claro, foi o de Pedro Américo, pintor da época do Império e até hoje uma grande referência para as artes plásticas brasileiras. Lá, entre réplicas e desenhos, encontramos um quadro original sobre Jesus Morto, alguns objetos pessoais do pintor e, pasmem!, um segredo de Pedro Américo: uma garrafa com algo escrito dentro. Conta a lenda que Pedro Américo teria escrito alguma coisa e pedido para só lerem depois que morresse. Ele morreu, a família preferiu não abrir a garrafa e até hoje o documento continua intocável, sem ninguém saber o que está escrito nele.
Também estivemos no Casarão de José Rufino e vimos a história diante de nós. Com as senzalas de negros e negras nos expondo os segredos de um casarão que precedeu até a criação da cidade. Segundo consta, em 12 cubículos os escravos eram amontoados pra serem negociados nas feiras da região. Os que permaneciam, enquanto não eram vendidos, juntamente com aqueles que iam chegando, trabalhavam nas lavouras do proprietário.
Ah, e o Teatro Minerva, o primeiro da Paraíba! Entrar em seu espaço, subir ao seu palco e nos camarotes é como mergulhar num tempo que não volta mais. Um tempo em que não se fazia teatro como se fosse uma produção em série de uma fábrica. Não! Teatros eram feitos com a cara da cidade aonde estava sendo construído.
Areia, terra dos engenhos de cachaça, tem outros encantos, outros segredos que ainda precisamos descobrir. Quem sabe numa próxima visita seus moradores tão acolhedores não nos apontem outros mistérios? Talvez o grande segredo dessa cidade, aliás, esteja em sua gente, sempre tão orgulhosa de falar de sua história. O segredo de Pedro Américo? Esse vai ser difícil de descobrir.
Linaldo Guedes é poeta, jornalista e editor. Com 11 livros publicados e textos em mais de trinta obras nos mais diversos gêneros, é membro da Academia Cajazeirense de Artes e Letras (Acal) e editor na Arribaçã Editora. Reside em Cajazeiras, Alto Sertão da Paraíba, e nasceu em 1968.