O presidente Jair Bolsonaro informou que vai evitar falar com a imprensa após levantamento da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) indicar que ele foi responsável por 58% dos ataques à categoria no ano passado. O relatório da entidade foi divulgado na quinta-feira da semana passada, mostrando que 208 ataques a veículos de comunicação e jornalistas foram registrados no ano passado e que, desses, Bolsonaro foi responsável por 121. Ao falar com jornalistas que o aguardavam na entrada do Palácio da Alvorada na manhã de hoje, Bolsonaro fez referência a um suposto processo contra ele da “Associação Nacional de Jornalistas”. O Palácio do Planalto não soube informar, até o momento, de qual processo se trata.
– Eu quero falar com vocês, mas a Associação Nacional de Jornalistas diz que quando eu falo eu agrido vocês. Como sou uma pessoa da paz, não vou dar entrevista. Não posso agredir vocês aí. Manda tirar o processo que eu volto a conversar – disse Bolsonaro. No domingo, Bolsonaro ironizou o estudo da Fenaj em postagem no Twitter ao replicar uma chamada jornalística sobre a pesquisa. Bolsonaro respondeu, ainda, a um seguidor que perguntou como o levantamento chegou ao índice. “Pegaram o QI médio da galera da imprensa. Deu 58”, escreveu. Desde a campanha eleitoral e, com mais intensidade, após a investidura na Presidência, tem sido tensa a relação de Bolsonaro com jornalistas e veículos de comunicação. A jornalista Thaís Oyama, ex-redatora-chefe da “Veja”, acaba de lançar, a propósito, o livro “Tormenta – o governo Bolsonaro: crises, intrigas e segredos”. Bolsonaro está há apenas um ano e menos de um mês no poder.
Por sua vez, em artigo na última edição da “Veja”, o jornalista Roberto Pompeu de Toledo qualifica de “comédia presidencial” a série de performances de Bolsonaro em frente ao Palácio da Alvorada, quando se desloca para o Palácio do Planalto, e sugere que uma boa resolução de Ano Novo para os jornalistas baseados em Brasília seria não mais comparecer aos embates matinais com o presidente. Pompeu insinua que Bolsonaro despreza e debocha dos profissionais de comunicação, faltando-lhes com o respeito que o próprio cargo impõe, pela sua liturgia. Em dezembro, a um repórter que ousara perguntar sobre seu filho Flávio, reagiu, por exemplo: “Você tem uma cara de homossexual terrível. Nem por isso, eu te acuso de ser homossexual”.
Outro caso citado foi a resposta do presidente à pergunta sobre se ele ainda pretendia mudar a embaixada de Israel. “Você pretende se casar comigo um dia?”, devolveu o capitão reformado, de bate-pronto. E insistiu: “Não seja preconceituoso! Você não gosta de loiro de olhos azuis? Isso é homofobia, vou te processar por homofobia. Não admito homofobia. Você pretende se casar comigo? Responde!”. Em outra oportunidade, Bolsonaro foi na jugular dos repórteres: “Vocês são uma espécie em extinção. Cada vez mais gente não confia em vocês. Acho que vou votar os jornalistas do Brasil vinculados ao Ibama”. A pergunta que provocou tamanha explosão, lembra Pompeu: “Qual reforma virá primeiro, a tributária ou administrativa?”.
Diante do comportamento agressivo e desrespeitoso do presidente, Roberto Pompeu de Toledo arremata: “O código de condut profissional do jornalista reza que não se pode perder as oportunidades de notícia. Essa é a regra. As manhãs do Alvorada deveriam, porém, ser consideradas uma exceção: se não é naquele ambiente, em algum outo a mesma notícia haverá de se produzir. Reduzir-se aos seus fãs, seus gritos de “mito” e seus pedidos de selfies, será condenar-se ao tédio e à perda de tempo. Não compensa o trabalho de mobilizar os seguranças e montar o cercadinho que acolhe seguranças, fãs e jornalistas. Para o país, o benefício será o abandono de uma arena de encontros viciados, em que o esclarecimento, objetivo das entrevistas, perde para a empulhação e a bazófia”.