Nonato Guedes
O ex-senador Ney Suassuna consegue a proeza de se manter em evidência no noticiário, mesmo sem mandato ou, aparentemente, sem maior influência nos círculos de poder, na Paraíba ou em Brasília. O empresário reapareceu na mídia candidatando-se por duas vezes a uma cadeira de membro da Academia Paraibana de Letras. Nas duas vezes, foi derrotado, inobstante exibir um currículo que lhe atribui aptidões conexas na área intelectual como a de pintor. De forma ciclotímica, como convém ao seu ritmo, Ney salta com desenvoltura das páginas literárias para o noticiário policial. Ontem, o Ministério Público local pediu sequestro de seus bens e de outros implicados na Operação Calvário, que trata de desvio de recursos públicos da Saúde e Educação, entre os quais o ex-governador Ricardo Coutinho (PSB), cuja prisão voltou a ser proposta. Suassuna é um fenômeno, não há dúvidas.
Ele despontou no cenário político estadual na década de 80, figurando como candidato a senador em 82 por uma sublegenda do PMDB em chapa que tinha o ex-governador Pedro Gondim como principal nome. A estrela maior da chapa era Antônio Mariz, concorrendo ao governo do Estado ainda sob o “recall” da dissidência na Arena que o levou a enfrentar Tarcísio Burity em convenção, em 1978, quando a moeda corrente ainda era a escolha indireta de govenadores, submetidos a crivos homologatórios de diretórios estaduais. Em 82, Mariz foi abatido pelo voto direto por Wilson Braga, beneficiário de máquinas do poder e desfrutando lua de mel com a popularidade que tanto encanta os políticos.
Suassuna vai ser reencontrado com frequência na cena política provinciana, quer como protagonista, quer como coadjuvante, operando nos bastidores. Em 1994, com a eleição de Antônio Mariz ao governo, o dono de uma rede de colégios particulares no Brasil e no exterior ascende a mandato titular no Senado e em 98 legitima o mandato nas urnas, fazendo dobradinha com José Maranhão, o vice que assumiu com a morte de Mariz e que se candidatou à reeleição, recém-aprovada no Congresso como estratégia para favorecer Fernando Henrique Cardoso. Ney se apresentava como “o senador do Zé”, com quem rompeu mais tarde, por divergências políticas e financeiras. Chegou a desabafar que estava sendo pressionado a ser “trem-pagador” de campanhas de candidatos do partido a outros postos eletivos e caiu em desgraça por não ceder a chantagens.
No papel de senador, Ney era reconhecido como “trator”, ligeirinho na especialidade de abrir portas de ministérios e de outros gabinetes influentes em Brasília, para carrear obras e verbas do governo federal. Seu jogo de cintura e habilidade conspiraram para que ele fosse bafejado com o Ministério da Integração Nacional e com a vice-liderança do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Senado, alternando prestígio por metro quadrado na Esplanada do Poder em Brasília. O homem que protagonizara espetáculo hilário, mas proativo, montando uma exposição de latas vazias nas ilhargas do Palácio do Planalto, para protestar contra o descaso de autoridades diante dos efeitos da seca inclemente que castigava os sertões da Paraíba e do Nordeste, apareceu com menção negativa no escândalo denominado “Sanguessugas”, referência a negociatas envolvendo aquisição de ambulâncias por prefeituras municipais e outras esferas de poder. Era a contrapartida do “pudê”, na forma do ônus e do desgaste. Ainda assim, seu empenho em prol do povo em momento de adversidade nunca foi olvidado, embora já não se traduzisse mais em votos.
Mesmo experimentando o fastígio, o ostracismo, Ney ressurgia por cima, quando menos se esperava. No governo do presidente Michel Temer, foi o articulador decisivo de uma audiência do sucessor de Dilma Rousseff ao então governador da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB), crítico empedernido de Temer e do impeachment da petista. A conversa foi difícil, mas, em tese, serviu para desafogar a gestão de Coutinho de pendências que estavam engessando a coisa pública no Estado. Sedimentou, por outro lado, a reaproximação com os petistas por parte de Ricardo, que se dizia “enojado” com golpismos e golpistas no horizonte do Brasil. Lula, claro, adorou. Ney foi, então, regalado com a prebenda de “embaixador” da Paraíba, com carta-branca para atrair investidores do exterior e carrear dividendos para cá.
Deu no que deu!