A perda de poderes do ministro Sérgio Moro, da Justiça e Segurança Pública, caso o presidente Jair Bolsonaro decida dividir a Pasta comandada pelo ex-juiz federal, pode gerar uma crise no governo do capitão reformado do Exército. A repórter Délis Ortiz informou, na edição de ontem à noite do “Jornal Nacional”, da Rede Globo de Televisão, que o ministro disse a interlocutores que está bastante decepcionado e que irá sair do governo caso se confirme diluição da pasta. A jornalista ainda ressaltou que aliados de Moro entendem a medida como uma forma de retaliar o ex-juiz por seguir na frente de Bolsonaro nas pesquisas de opinião, apesar de acumular derrotas em Brasília.
O processo de “fritura” estaria sendo comandado pessoalmente por Bolsonaro, deixando para trás a fase épica em que qualificava como “superministro” o ex-juiz que decretou a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que se notabilizou pelo desempenho à frente da força-tarefa da Operação Lava-Jato. Em entrevista dada em novembro de 2018, Bolsonaro falou que pretendia que Moro assumisse até mesmo parte do Coaf, instituição de controle financeiro do governo. Moro tem sido paulatinamente esvaziado, enquanto redobra o ciúme de Bolsonaro. Em conversa com secretários estaduais de Segurança Pública – anota a revista Fórum – o presidente informou estar estudando a recriação de um ministério específico sobre a questão. Segundo versões do editor da Fórum, Renato Roval, o presidente não engoliu a forma como Moro se apresentou no programa televisivo Roda Viva. Ele teria armado a inclusão do polêmico ponto na pauta da reunião.
“Bolsonaro fará de tudo para acabar com Moro arte 2022”, opinou o ex-ministro e aliado Gustavo Bebianno, assegurando que o clima não é nada bom entre eles, que o presidente só pensa em reeleição e que “morre de medo” de Moro nas urnas. “Infelizmente o Jair só pensa em reeleição. A sorte do país é que há alguns ministros que efetivamente trabalham pelo Brasil, a exemplo do Sérgio Moro e do ministro da Economia, Paulo Guedes. Essa obsessão pelo poder, combinada com as paranoias de traição, se sobrepõe ao excelente trabalho desses auxiliares. Como o Jair morre de medo do Moro nas urnas, fará de tudo para acabar com ele até 2002”, declarou ao colunista Tales Faria, do UOL.
Bebianno alertou para o risco da utilização política da Polícia Federal por Bolsonaro. “Até agora, Moro foi o freio que inibiu o uso político da Polícia Federal, o que com toda certeza irrita bastante o Jair. Sem o Moro, as chances de a PF ser utilizada como ferramenta de opressão contra os desafetos serão grandes. Isso poderá gerar um clima muito pesado no país”, expressou. Bebianno ainda mandou um conselho para o ministro da Justiça. “Se o Moro me pedisse um conselho, eu diria a ele o seguinte: saia desse governo o quanto antes, mantenha-se o mais longe possível da família Bolsonaro e volte no início de 2022 como pré-candidato a presidente da República. Jair não terá a mínima chance contra você”.