Nonato Guedes
Há cerca de uma década, o ex-prefeito de João Pessoa Ricardo Vieira Coutinho, pilotando a legenda do PSB, derrotou esquemas políticos tradicionais e ascendeu ao governo da Paraíba na companhia da militância do agrupamento que ele liderava e que foi denominado de “girassol” pelos próprios “ricardistas”. Ricardo aliou-se a Cássio Cunha Lima (PSDB) e ao senador Efraim Morais, do Democratas, em concessões estratégicas para se reforçar com vistas a derrotar o adversário principal, José Maranhão, do PMDB (hoje MDB),que estava no Palácio da Redenção, completando o mandato de Cássio, interrompido pelo TSE em 2009. O vice de Ricardo foi o falecido deputado Rômulo Gouveia, então filiado ao PSDB. O leque da disputa majoritária abrigou seis candidatos, incluindo representantes de pequenos partidos e o veredicto foi empurrado para o segundo turno. No primeiro turno, Coutinho alcançou 49,74%, traduzidos em 942.121 sufrágios, enquanto Maranhão ficou com 49,30%, que significaram 933.754 votos. No segundo turno, o socialista ampliou a diferença sobre Maranhão e consagrou uma liderança, antes restrita a João Pessoa, em outras regiões influentes como Campina Grande.
No dia primeiro de janeiro de 2011, na solenidade de posse na Assembleia Legislativa, perante o presidente da Casa, Ricardo Marcelo (ex-PSDB), Ricardo foi enfático numa das mais longas orações já proferidas por governantes vitoriosos: “Paraibanos, companheiros…Chegamos! O que antes foi regado em múltiplos sonhos, hoje transborda numa mesma realidade: o povo chegou ao poder. A sociedade que ajudamos a construir e projetar ao longo das últimas décadas ganha, a partir deste momento, o formato concreto do que ousamos pensar e agir em conjunto, em instantes de euforia ou descrenças, com o ardor dos descontentes e esperançosos. Todos nós, portanto, assumimos hoje o papel que decidimos escrever para nossa própria história. Fazendo a hora, não esperando acontecer (…) Assumo, aqui e agora, a honrosa condição de governador do Estado da Paraíba, cargo ao qual humildemente me invisto, convicto e ancorado ao desejo da maioria do povo paraibano em unir mentes, braços e corações, na construção de tempos mais justos e solidários. Mais democráticos e tolerantes, mais desenvolvimentistas e sustentáveis. Mais humanos, em resumo”.
Ricardo, que foi reeleito em 2014 tendo como vice a médica Lígia Feliciano, e que atualmente é investigado no âmbito da Operação Calvário, que apura desvios de recursos da Saúde e Educação, tendo tido renovado pelo Ministério Público o pedido de sua prisão preventiva, prometia no discurso de posse em 2011 que, ao lado do povo paraibano e suas representações institucionais, pretendia transformar o Estado para muito melhor do que já demonstrava ser potencialmente. “Desse foco não irei me afastar um milímetro, sob pena de comprometer o equilíbrio necessário para atender, de forma equânime, as exigências e representações setoriais (…) A população tem sua própria lógica, sua própria força e mobilização. É fundamental que isso seja respeitado e aplicado. Todos os segmentos sociais devem e terão o espaço adequado para a implantação de novas formas de governar e partilhar atitudes, ações e prioridades. Foi assim que as urnas disseram que deveria acontecer. E assim será”, obtemperou.
Na concepção que Coutinho traduziu, o futuro da Paraíba só poderia ser erguido mediante um novo pacto social, onde os partidos e a classe política deveriam se alinhar acima dos interesses corporativos, em benefício generalizado e permanente. “A revitalização de métodos, posturas e desempenhos será a ferramenta mestra na condução e enraizamento social da máquina estadual, cujo zelo nos é imposto pela vida e pela sábia voz das urnas. Ouviremos e ecoaremos essas vozes”, comprometeu-se o governador. Ricardo inaugurou, no discurso, o e-governo, dizendo-se plugado, “byte a byte”, com os integrantes da nova ordem tecnológica, “ajudando a criar e espalhar, de casa para o mundo, a democracia digital e suas redes sociais de compartilhamento”.
– Companheiros jardineiros, um extenso e fértil roçado nos espera! – poetizou Ricardo Coutinho em outro trecho da sua alocução, adiantando que governaria sob a égide do Plano apresentado durante a campanha, fruto da contribuição de centenas de pessoas e de segmentos ávidos por soluções inteligentes e sustentáveis, “que restabeleçam o verdadeiro papel do Estado em promover e ajudar o desenvolvimento geral como agente meio ao desabrochar coletivo”. E arrematou: “Este não será um governo do faz de conta. Este será um governo que prestará contas dp que faz”.