Nonato Guedes
No discurso de posse como governador da Paraíba, em janeiro de 2011, no seu primeiro mandato, o socialista Ricardo Coutinho dedicou um parágrafo ao vice-governador Rômulo Gouveia, ex-deputado federal, falecido em maio de 2018 em Campina Grande e que havia sido indicado pelo PSDB sob articulação direta do ex-senador Cássio Cunha Lima para representar o Compartimento da Borborema e fortalecer a chapa majoritária afinal triunfante. “Assumo, mas ao meu lado, mão a mão, estará o vice-governador Rômulo Gouveia, equilibrando a balança da geopolítica paraibana, ajudando a desenhar um novo cenário social e econômico para todas as regiões do Estado, com a imprescindível colaboração, vitalidade e experiência dos parlamentares eleitos para o Senado, Câmara e Assembleia. E aqui destaco, especialmente, o senador Cássio Cunha Lima”.
Sugeriu Ricardo, na alocução, que as brigas “eternas” fossem enterradas no passado e as contendas políticas forjadas no respeito comum ficassem reservadas ao curto calendário eleitoral. “No resto do tempo, a Paraíba deve ser o ponto de aglutinação e empenho, labuta e celebração. Temos, a partir de hoje, o privilégio e os meios para repaginar os destinos de milhões de pessoas. Não fujamos dessa responsabilidade”, exortou. Rômulo Gouveia, em 2010, ensaiava passos para concorrer à reeleição à Câmara Federal quando foi atropelado pelos acontecimentos. A sua participação na chapa de Ricardo, com o aval do grupo Cunha Lima, sinalizou o retorno de Campina Grande ao poder estadual. Originário de movimentos comunitários em Campina, Rômulo foi vereador, presidente da Câmara Municipal, deputado estadual e federal. Em abril de 2011 protagonizou uma reviravolta ao anunciar sua desfiliação do PSDB e seu consequente ingresso no recém-criado PSD, articulado pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. Queixou-se de desprestígio no PSDB, citando como exemplo que a direção nacional do partido sequer o cumprimentou por ser vice-governador da Paraíba. Também não era ouvido nas decisões referentes à Paraíba. “Gosto de me sentir bem na legenda em que estou militando. É natural que procure me acomodar melhor”, justificou ainda.
Ex-candidato a prefeito de Campina Grande em 2004 e 2008, tendo perdido para Veneziano Vital do Rêgo, então PMDB, atual PSB, Rômulo se sentia incomodado com as divergências entre Cássio Cunha Lima e Cícero Lucena como rescaldo das eleições de 2010. Além do mais, tinha carta branca para comandar o PSD na Paraíba. Era conhecido nos meios políticos pelo jogo de cintura, habilidade e trânsito fácil nos meios políticos, independente de correntes. Foi presidente da Assembleia Legislativa por duas legislaturas consecutivas e introduziu inovações na sistemática da Casa. Foi presença assídua em conclaves da Unale, a União dos Legislativos do país. Como vice-governador, procurou atuar nos bastidores para conter insatisfações ou reivindicações. Costumava dizer: “Em política, não tenho inimigos, tenho adversários”. Assumiu diversas vezes a titularidade do Executivo, em ausências do governador motivadas por viagens, inclusive, ao exterior. “Tenho plena identidade com Ricardo”, assegurava Rômulo aos jornalistas.